Ela – Onde?
Ele – Ali.
Ela – Ah, o Sampaio da Nóvoa!"
O diálogo de um casal de meia-idade na Avenida da Liberdade, que aguardava a passagem do desfile popular das comemorações dos 41 anos do 25 de Abril, repetiu-se durante a tarde entre quem assistia ao desfile. Entre os jornalistas, na rotunda do Marquês de Pombal, ponto de partida da marcha, a repetição era outra: "Já se sabe onde o Sampaio da Nóvoa vai esperar o desfile". Ninguém sabia. Não foi comunicado.
Passavam 45 minutos das 15h quando o pré-candidato à Presidência da República é encontrado à porta do Cinema São Jorge, precisamente onde decorre por estes dias o Indie Lisboa, festival de cinema independente. Nas declarações à comunicação social havia de dizer que a sua candidatura a Belém "é independente", independentemente dos apoios que possam chegar mais tarde, como os das "organizações, associações, movimentos e dos partidos".
O ex-reitor da Universidade de Lisboa, que na próxima quarta-feira, às 19h30, no Teatro da Trindade, oficializa a sua candidatura à sucessão de Cavaco Silva, (ainda) não tem o apoio oficial e declarado de qualquer partido. Mas já tem montada uma pequena estrutura – composta por amigos – que lhe dá apoio. A assessora, depois do pré-candidato tanto falar para os microfones das televisões e rádios que entravam em directo, comentava para um companheiro que talvez fosse preciso comprar pastilhas para a garganta do professor.
"Não é o primeiro dia da minha campanha", ensaiou, em resposta a uma jornalista. "O primeiro dia da minha campanha é quarta-feira", lembrou. Bem podem faltar quatro dias para o primeiro dia do resto da vida de Sampaio da Nóvoa, mas foi um candidato que esta tarde desceu a Liberdade, ladeado por duas crianças, filhas de amigos. Atrás, levava um grupo de apoiantes, entre eles Elza País, deputada do PS que lá estava por ser amiga pessoal de professor universitário.
Mas caras do PS a cumprimentar o ex-reitor é coisa que não faltou. Isabel Moreira, Pedro Delgado Alves, Duarte Cordeiro e Ana Catarina Mendes não desceram a avenida indiferentes a Sampaio da Nóvoa, que aguardava a passagem do desfile para o integrar. Rui Tavares, Ana Drago e Daniel Oliveira, da candidatura Livre/Tempo de Avançar, também saíram da marcha para cumprimentar o pré-candidato. "Boa sorte", desejou Oliveira ao ex-reitor.
O cumprimento mais efusivo viria de Vasco Lourenço. O presidente da Associação 25 de Abril já declarou o seu apoio a Nóvoa. Quando o avistou ainda à frente do São Jorge, não perdeu tempo e saltou (literalmente) uma fita vermelha que isolava os que seguiam atrás da chaimite que abria o desfile para ir abraçar ao seu candidato.
Depois da fotografia conjunta, e já com Vitor Ramalho, militante do PS muito próximo de Mário Soares, à espreita, Lourenço não deixou de deixar a dica. "O PS também lhe quer dar um abraço", atirou o coronel, entre sorrisos. Ramalho, que já garantiu que vai estar no Trindade quarta-feira, lá deu o abraço a Nóvoa.
Vasco Lourenço ainda convidou Nóvoa a integrar o desfile a seu lado. Mas o professor preferiu honrar os anos em que anonimamente integrou as celebrações populares da Revolução dos Cravos. "Vou calmamente, como sempre fui". Esperou até que as colunas sectoriais que integraram o desfile (partidos, movimentos, associações, centrais sindicais, entre outros) avançassem na avenida. Depois, juntou-se aos populares e lá desceu a Avenida da Liberdade. No primeiro banho de multidão após o pré-anúncio de candidatura à Belém, Sampaio da Nóvoa não se sentiu órfão de apoio. Mesmo que o seu apelido ainda não esteja na ponta da língua dos portugueses.