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Por todo o país, chegam aos castings milhares de miúdos que acham que vir a ser cantor é a melhor desculpa que têm para não acabar o ensino obrigatório. Esqueceram-se que é preciso ter talento. Há aqueles cujos pais e os amigos os incentivaram e lhes disseram que cantam melhor que o Frank Sinatra e a Beyoncé juntos, mas quando abrem a boca sai de lá algo mais agoniante que o Bambi a chorar a morte da mãe. Meus queridos, isto não é ter amigos. É estarem indecisos para se atirarem da ponte e eles darem-vos um pontapé nas costas. Eu, por acaso, consigo perceber sozinho que nunca na vida podia concorrer ao Ídolos. Mas se estivesse com tais ideias, contava que os meus amigos me espetassem uma lambada na cara com as costas da mão, aplicada com um golpe psicologicamente violento e um movimento ascendente do braço, para eu ganhar um pouco de noção. É disto que se trata. Falta de noção.
Atenção. Eu até compreendo o espírito “eu sei que não canto grande merda, mas se os D.A.M.A têm sucesso, eu também posso ter”. O que não entendo é o “Royal Albert Hall será pequeno para mim”, e depois abrem a boca, são um desastre e ainda conseguem ficar incrédulos com a reacção do júri. À porta, do lado de fora, estão à espera os amigos e os pais que ficam surpreendidíssimos com a notícia no chumbo do casting. Reagem com a indignação própria de quem nunca viu o que lhe é descontado depois de passar um recibo verde.
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Não me interpretem mal.
Longe de mim sugerir que cada um não persiga os seus sonhos. Percebam é que os sonhos são igualmente válidos se forem ser o melhor cortador de relva da Junta de Freguesia ou fazer bolinhas de plasticina a vida a toda. E com a vantagem de vos conservar a dignidade.