A decoração, soberba, abre do lado de dentro do CCB com uma magnífica salona virada para um enorme balcão de bar, sobe depois pelas escadas laterais, e a parte de cima termina numa esplanada no chamado Jardim das Oliveiras (com uma bela vista sobre o Tejo). Eu diria que o que sobressai ali são os esplendorosos candeeiros. Mas há também orgamis, em alusão ao Japão. O espaço é aberto e desempoeirado, com mesas bem alinhadas, algumas separadas, outras em estilo de cantina (como as do meio da sala de cima).
Neste sala, a do restaurante propriamente dito (estando nós na cafetaria do CCB, servem-se aqui todas as refeições, incluindo pequenos almoços e lanches), uma palavra especial para o balcão onde funciona em showcooking o forno a lenha das pizzas, mais as chapas teppan da comida japonesa grelhada, e onde trabalham à vista todos os cozinheiros, desde o pizzaiolo aos sushimen.
Claro que não podemos esquecer os simpáticos e eficientes trabalhadores da casa, que ostentam ao peito chapas com os seus nomes.
Mas vamos então à comida. A lista apresenta propostas variadas italianas e japonesas, e uma pequena quantidade de pratos de fusão entre estas duas gastronomias. Mas podemos começar bem com uma flute de proseco (espumante) italiano, aqui servido a copo ou a jarro (hipótese esta que dá muito jeito para um casal, que pode optar só por meio jarro). A fusão pode estar logo na entrada, com um crostini Este Oeste (pão torrado com ceviche de vários peixes, malagueta doce, azeite de trufa e flor de sal).
A pizza no forno de lenha vem com massa fina e estaladiça, mais os ingredientes frescos, muito ao sabor português e do Casavostra (já se sabe que a verdadeira pizza italiana é mais alta e menos crocante). Mas também há massas, carnes e pratos de forno.
Da gastronomia japonesa, há os temakis, makimonos ou combinados de sushi e sashimi. Aqui, felizmente para mim, pouco dado às autenticidades cruas distantes, os protagonistas são os pratos quentes feitos na teppan, a grelha de ferro para preparados em chapa, cozinhados com as belas características dos SushiCafés.
O sushi, dizem os apreciadores, também é muito bom: peixe fresco, bem cortado, em combinações simples e saborosas.
Para beber mais em conta, sugerem-se os vinhos da casa, tinto ou branco, tanto mais que neste aspecto a lista não ousa muito.
Para sobremesa, fiquei-me com duas propostas: uma deliciosíssima e finíssima pizza de maçã ou uma mousse de oreo com fruta e um biscoito de limão desfeito. Pessoalmente, prefiro muitíssimo a primeira.
Dois empreendedores juntos
António Oliveira e Silva, 59 anos, economista, que andava a fazer sucesso com o Casavostra algarvio (comida italiana com consultoria de Maria Paola Porru, da lisboeta Casanostra), e Manuel Salema, 46, advogado, com credenciais gastronómicas passadas nos seus fantásticos SushiCafés (primeiro o das Amoreiras, depois o Avenida, na Barata Salgueiro, e finalmente o mais recente, em Oeiras).
Oliveira e Silva iniciara-se com os olhos no Brasil, nos anos 90, e uns restaurantes de Picanha, em Lisboa (Janelas Verdes) e Madrid. Deixara a vida de economista, e uns cozinhados caseiros para amigos, pretendendo fazer nova carreira. Sempre com a ideia em gastronomias estrangeiras. Depois das Picanhas, o grande êxito surgiu com o Casavostra, e as pizzas assessoradas por Maria Paola Porru. Também Madrid levou uma volta, adaptada aos novos projectos.
De modo que, quando o desafiaram a levar o conceito italiano do Algarve para o fabuloso espaço do Café do CCB, seguiu o conselho de fazer ali uma coisa diferente, unindo-se a Manuel Salema – que, com o irmão Luís e a ajuda do chef Daniel Rente, tinham sabido apresentar a comida japonesa ao gosto lisboeta, dentro das mais modernas e agradáveis decorações. E assim temos, não uma cozinha de fusão (embora também lá apareça alguma coisa desta), mas uma junção de cozinhas.
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