Quem é que não gostou disto? Os taxistas e a ANTRAL, como é óbvio. Foram a tribunal. Ganharam (ou estão a ganhar). E, sinceramente, ainda bem.
Para que é que eu hei-de usar um Uber, se posso apanhar um táxi, viver toda uma aventura e pagar muito mais do que era suposto, mas onde tanto pode acontecer?
Num táxi, já aprendi onde trabalham as melhores pêgas, já parámos numa rua escura, sem que o tivesse pedido, para o taxista comprar droga, já fui insultado e quase agredido por não ter aceite ir de táxi para o Porto em vez de comboio como o taxista sugeria, já ouvi que os pretos são todos uma merda, já fui descaradamente enganado no troco e já levei com taxistas amuados porque a distância do aeroporto a minha casa é curta. E adorei tudo, claro.
E, num exemplo concreto, quando saímos do Lux às 7 da manhã, tendo lá deixado todo o nosso dinheiro e dignidade, para que é que havemos de gastar os últimos 2% de bateria a abrir a app para chamar um Uber quando os podemos gastar num WhatsApp para saber se aquela miúda que faz tão bem a espargata na cama como a seguir faz os ovos mexidos, ainda está acordada? Exacto. Mais vale apanhar um táxi. Preferencialmente daqueles que espera que adormeçamos no banco de trás para depois nos levar de Santa Apolónia a Alvalade, passando por Santarém só para dizer olá à mãe Kikas.
A verdadeira questão é: porque é o país há-de querer melhorar se já é perfeito, principalmente ao nível do transporte público? Temos o tal serviço de táxis que é um mimo, um Metro que nunca está de greve e aos fins-de-semana está sempre aberto (não só no Porto, mas também em Lisboa), autocarros que também nunca estão de greve e onde nunca há assaltos na carreira nocturna, comboios que estão sempre a horas, aviões que nunca se atrasam com pilotos que nunca fazem greve e agora ainda temos cerca de 234 milhões de tuk-tuks que dão muito jeito para ir ver os Jerónimos mesmo que queiramos é ir para o trabalho.
Enfim, esta mania de querermos que o país avance tem de acabar de uma vez por todas, sob o risco de qualquer dia até parecer que queremos que toda a gente viva o mais bem possível.