É assim que ela se apresenta – e com este cartão-de-visita já viajou pelo mundo. Esteve em Portugal, tendo 'confessado' ter tido um caso com Cristiano Ronaldo. O jogador não lhe deu troco, e ficou a ideia de que a brasileira inventa umas histórias com celebridades para se promover e não se esquecerem dela. E consegue-o, pois os tablóides também precisam de matéria para encher as páginas.
Mas esta mulher que semeava escândalos e parecia vender saúde de repente surpreendeu tudo e todos quando, em Dezembro, nas vésperas do Natal, foi internada numa clínica com uma infecção grave. O que se teria passado? A resposta não se fez esperar: o hidrogel que colocara nas pernas provocou uma infecção que obrigou a uma intervenção cirúrgica de urgência.
Miss Bum-Bum esteve internada 25 dias e o seu estado chegou a ser preocupante. Viciada na fotografia e na exposição do corpo, fez-se retratar na clínica, no próprio leito em que convalescia, com as pernas cheias de adesivos e ligaduras. “Esparadrapadas”, como diria o escritor angolano Pepetela.
Depois de sair da clínica, Andressa disse ao britânico Daily Mail: “Tenho vergonha dos buracos nas minhas pernas. As cicatrizes ficarão lá para o resto da minha vida, mas são um troféu por estar viva”.
Mas isto não é nada em comparação com outras revelações que a jovem fez na mesma ocasião. Confessou o seguinte: “Estava a planear remover uma costela para ficar mais magra e tirar um dedo de cada pé para deixá-los mais finos”.
Bom, isto é que eu nunca tinha ouvido! Fazer lipo-aspiração para tirar gordura do abdómen, pôr silicone no peito, nos lábios ou nas maçãs do rosto, aumentar o volume das nádegas, engrossar ou adelgaçar as pernas, tudo isso já ouvimos. Mas remover costelas ou dedos?!
Escrevi há muito tempo um texto sobre cirurgia plástica onde dizia que se vêem hoje mulheres que parecem bonecas insufláveis (aquelas bonecas cheias de ar que servem para a prática de sexo). À força de porem plástico em todo o corpo, tornam-se artificiais, não parecem bem humanas.
Não percebo como se sentem bem com corpos que não são seus, fabricados à custa de produtos estranhos enxertados na sua carne. E como há homens que apreciam esse género.
Desde jovem aprendi a gostar da autenticidade, do que é genuíno, e a rejeitar o que é artificial, falso. Por isso, sempre tive aversão às cirurgias estéticas, sejam de 'aperfeiçoamento' ou para iludir o envelhecimento. Como dizia um antigo colega meu, o jornalista Henrique Monteiro, “as pessoas devem aprender a envelhecer com dignidade”.
É natural que os seres humanos queiram parecer bonitos – mas de uma forma saudável e não à força do bisturi e dos enxertos.
E devem ir aceitando com naturalidade os efeitos que o tempo vai provocando nos seus corpos, não querendo parecer o que não são. E não fazendo tristes figuras.
O bisturi pode, em teoria, fazer tudo: transformar uma penca de papagaio num nariz de Bela Adormecida ou uns seios inexistentes nos mais bonitos do mundo. Mas que valor isso tem? Se a moda se vulgarizar, todas as mulheres terão um dia seios e narizes iguais…
E depois há os riscos. O risco de as pessoas ficaram irreconhecíveis – como aconteceu com a lindíssima actriz Laura Antonelli, que depois de uma intervenção estética mal sucedida nunca mais pôde aparecer no ecrã. Para não falar no risco de vida, como sucedeu a esta Andressa Urrach. Ou ao treinador Manuel Machado, após uma lipo-aspiração.
Apesar de tudo isso, porém, o recurso à cirurgia estética é cada vez mais frequente. Há tempos vi uma reportagem numa escola espanhola do ensino secundário onde, num grupo de cinco miúdas que conversavam no pátio, apenas uma não tinha implantes mamários – e estava tristíssima por isso. Todas as outras os tinham colocado. Para algumas, fora um presente de aniversário dado pelos pais. E estamos a falar de miúdas de 14 anos e 15 anos!
Não sei se este fenómeno será reversível. Se chegaremos a um ponto em que os homens se começarão a cansar da perfeição, dos seios todos parecidos, com o mesmo aspecto e medidas ideais – e pedirão às mulheres para se apresentarem ao natural, sem disfarces nem implantes.
Actualmente estamos na fase oposta. O que é antinatural é que é bom. Esculpe-se o corpo, fazem-se tatuagens, espetam-se piercings nos sítios mais incríveis. Parece que as pessoas têm hoje vergonha de exibir o seu corpo tal qual é – e fazem tudo para o disfarçar, para esconder as imperfeições ou simplesmente para esconder a pele.
Confesso que me repugnam os silicones, os corpos de plástico, como me repugnam as tatuagens e os piercings. Repugnam-me e afligem-me. As pessoas tatuadas parecem nunca estar lavadas. A nudez não é nudez: entre os olhos de quem vê e o corpo de quem é observado há uma coisa pelo meio, um desenho, uns nomes… E furar as orelhas, os lábios, a língua, o pénis, o nariz, o umbigo para meter piercings é assustador.
Repito: não sei se estas manifestações ligadas ao culto do corpo serão reversíveis. Para já, parecem-me sinais de uma civilização decadente. Nesses períodos de crepúsculo das civilizações é que encontramos esses estranhos fenómenos em que há um afastamento da natureza.
Para que fique registado, Miss Bum-Bum voltou a ser hospitalizada no mês passado para uma nova intervenção cirúrgica a uma infecção numa perna provocada por hidrogel.
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