O ponto picante da cerimónia de lançamento da candidatura de Nóvoa consistia em apurar se os dirigentes socialistas – designadamente, o próprio Secretário-Geral António Costa – estariam presentes. Ou, em termos mais rigorosos, qual o índice de presença de dirigentes socialistas do Teatro Trindade, ontem às 19h30m – porque já sabíamos que alguns dirigentes tinham garantido a sua presença. Conclusão: a montanha pariu um rato. Porquê? Nós estivemos muito atentos à cerimónia de lançamento da candidatura de Nóvoa, aos preparativos, à chegada do candidato e ao discurso. E vimos que, não obstante terem comparecidos alguns cidadãos não alinhados com partidos políticos, a verdade é que o grupo que ficou na fotografia com Nóvoa foi o inenarrável Vasco Lourenço (o militar que hoje é mais revolucionário do que era em 25 de Abril de 1974) e que pensa que é dono da democracia, Mário Soares (como sempre quando está na oposição, mais revolucionário do que nunca – Soares hoje parece um militante do Partido Comunista Português – as voltas que o mundo dá), Jorge Sampaio (discreto, falando pouco), Costistas de 2.º e 3.º linha (como é o caso de Duarte Cordeiro, que embora seja o braço-direito funcional – ou, como alguns dizem, o “menino querido” – de António Costa, não tem peso, nem talento político que possa ser capitalizado por Nóvoa) e… o mais surpreendente é o apoio dos socráticos a Sampaio da Nóvoa. Quem diria que Jorge Lacão se tornaria no mais fervoroso apoiante de Nóvoa?
Coloca-se, então, a seguinte pergunta: será que ausência de António Costa significa que o apoio do PS à candidatura de Sampaio da Nóvoa ainda não é certo? A resposta é, sem dúvidas: não. O apoio do PS a Sampaio da Nóvoa é mais do que certo. A presença dos operacionais de António Costa – como é o exemplo, já citado, de Duarte Cordeiro – e a presença dos socráticos revelam à exaustão que o PS apoia Sampaio da Nóvoa. Sampaio da Nóvoa é o candidato do PS, o seu partido de coração. Sampaio da Nóvoa é um falso independente: ou, se quisermos, é um independente dependente da estratégia eleitoral do PS de António Costa.
Adicionalmente, Sampaio da Nóvoa e os seus colaboradores já cometeram dois erros de palmatória. Primeiro: um candidato que se insurge contra o cenário negro de Portugal, contra o futuro muito negro dos jovens portugueses (o discurso de Sampaio da Nóvoa não sai disto) não pode discursar para o telejornal do horário nobre das televisões nacionais com um pano de fundo completamente…preto! Não houve ninguém que se lembrasse de colocar um cartaz branco por detrás do candidato, uma bandeira de Portugal ou qualquer coisa mais consentânea com o discurso do candidato? Agora, um fundo preto? Só se for para dizer subtilmente que o discurso de Sampaio da Nóvoa é um discurso vazio. Sem nada. Se for essa a razão, estamos de acordo.
Em segundo lugar, a equipa de Sampaio Nóvoa foi deixando escapar para os meios de comunicação social a notícia de que estariam presentes no lançamento da candidatura os três ex-Presidentes da República: para além de Mário Soares e Jorge Sampaio, Ramalho Eanes. Na verdade, só compareceram os ex-Presidentes do PS. Resultado: as expectativas criadas por Sampaio da Nóvoa e sua equipa aos portugueses e aos jornalistas revelaram-se frustradas. O destaque hoje da comunicação social foi precisamente a ausência de Ramalho Eanes no Teatro da Trindade. Isto dá uma ideia de fraqueza e da falta de capacidade de abrangência desta candidatura de Nóvoa. Corta a dinâmica de uma candidatura que apenas ontem foi lançada.
Nós sempre tivemos a convicção de que Ramalho Eanes não estaria presente no lançamento da candidatura de Nóvoa: não iria dar o seu apoio tão precocemente. Ramalho Eanes – sabemo-lo de fonte próxima – está a aguardar pelo anúncio da candidatura de Marcelo Rebelo de Sousa: Marcelo é o candidato preferido de Ramalho Eanes, achando o ex-Presidente da República que Marcelo é a pessoa mais bem preparada para exercer as funções presidenciais neste momento histórico da Nação Portuguesa.
Quanto ao discurso de Sampaio da Nóvoa, o que há para dizer resume-se ao seguinte: nada. Zero. Um vazio político absoluto. Cheio de lugares-comuns, com algumas frases poéticas, mas muito distante das necessidades do país – e sem perceber qual o estatuto constitucional do Presidente da República. Sampaio da Nóvoa é outro Manuel Alegre – pessoas simpáticas, poetas, mas sem qualquer talento ou competência para exercer um cargo político nacional tão relevante.
Julgamos – ideia que desenvolveremos a seu tempo – que Sampaio da Névoa tem sido sobrevalorizado e Henrique Neto subvalorizado no espaço mediático. O segundo deve ser levado mais a sério, até do que o primeiro. Henrique Neto não se fica pela poesia.