A força de Passos Coelho e a verdade sobre o SMS de Portas!

1. Foi, no final de tarde da última terça-feira, lançada a biografia de Pedro Passos Coelho da autoria de Sofia Aureliano. A sessão de lançamento contou com a presença de muito público, que lotou o Salão da Associação Comercial de Lisboa. Maior surpresa: o número completamente surpreendente de cidadãos sem militância política que fizeram questão de…

2. Pesem embora todas as medidas impopulares, difíceis, com consequências evidentes e imediatas para muitos portugueses – a verdade é que os cidadãos portugueses têm uma empatia natural com Passos Coelho. Os portugueses não esquecem que antes de Passos Coelho, Portugal viveu um período marcado pela irresponsabilidade financeira e pela lunatismo político: o período da governação de José Sócrates. José Sócrates leva-nos a pensar que deveria ser consagrado entre nós o instituto da interdição política: Sócrates há muito que deveria ser declarado pelos tribunais incapaz para exercer funções públicas de tamanho relevo. Felizmente, os portugueses, em boa hora, afastaram José Sócrates do cargo de Primeiro-Ministro. Já só mesmo o PS continua a exaltar o legado de Sócrates.

3. Outro facto digno de registo é a presença de tantos jovens na sessão de lançamento. Dir-se-á que são militantes da JSD: pois bem, se forem, significa que, afinal, a JSD está cheia de força e vitalidade. Não cremos, no entanto, que os inúmeros jovens presentes sejam todos da JSD – até porque os responsáveis institucionais da estrutura não estavam presentes. Apenas o anterior líder e deputado, Hugo Soares.

4. E do Governo, quem esteve presente? Barreto Xavier, o Secretário da Estado da Cultura – muito discreto, passando despercebido, fixando-se junto à entrada do Salão. E Nuno Crato – o homem mais sorridente deste fim de tarde, a mostrar um optimismo contagiante. Na mesma fila, Berta Cabral, ouvia atentamente o depoimento de Carlos Moedas – porventura, a pensar já na possibilidade de vir a suceder a Mota Amaral como cabeça de lista do PSD-Açores na lista para as legislativas.

5. O mais ansioso para ler o livro sobre Passos Coelho? Sem dúvida, Luís Montenegro. Era vê-lo a folhear furiosa e rapidamente as folhas do livro, sentado numa cadeira, no canto do Salão. Estaria Montenegro ansioso para saber se Passos Coelho se pronunciou sobre o seu futuro na liderança do PSD em caso de derrota em Outubro à autora do livro? É que Montenegro é apontado como um interessado insaciável na substituição de Passos Coelho, apoiado por Miguel Relvas…Fica aqui a interrogação.

6. Dito isto, passemos a analisar o conteúdo do livro. Em primeiro lugar, cumpre endereçar publicamente os nossos parabéns a Sofia Aureliano pela dedicação e pelo trabalho de grande qualidade realizado e que culminou na elaboração do livro agora disponível nos escaparetes das livrarias portuguesas. E uma justa palavra de agradecimento a Zita Seabra, que ousou lançar a biografia essencial de Passos Coelho, possibilitando, desta forma, que os portugueses possam conhecer a dimensão mais reservada do Primeiro-Ministro e o balanço que o próprio Passos Coelho faz da sua experiência governativa. Estas biografias – embora passíveis de críticas e sátira por parte dos oponentes políticos – servem também para o esclarecimento dos eleitores e, logo, para o exercício da democracia de forma mais consciente e informada. A biografia de Passos Coelho, escrita por Sofia Aureliano, merece ser lida.

7. Interrogará o leitor mais céptico:  mas não é esta uma biografia laudatória, muito favorável a Passos Coelho? De facto, é uma biografia que pretende acentuar os traços de personalidade mais cativantes e humanos de Passos Coelho – sem, contudo, abdicar de distanciamento crítico. Pense-se, por exemplo, na crítica de Sofia Aureliano à gestão política do caso das contribuições à Segurança Social. Não alinhamos, pois, nas vozes dos pseudo-intelectuais ou daqueles que arrogam para si o estatuto de “donos da democracia” que criticam o trabalho de Sofia por ser menos biográfico e mais hagiográfico, quer dizer de exaltação do biografado em termos exagerados. Por uma razão muito simples: é que o lado lunar, ou menos solar, de Passos Coelho é exaltado todos os dias por esses mesmos pseudo-intelectuais todos os dias na comunicação social. Basta uma pesquisa rápida no Google para o leitor encontrar textos depreciativos de Passos Coelho, que colocam em causa os méritos enquanto Primeiro-Ministro e até a honorabilidade como cidadão. Qual seria então a utilidade de uma biografia a desmontar os casos que inventaram ou que, em larga medida, foram empolados por alguns órgãos de comunicação social? Nenhuma. Utilidade tem – e muita – a abordagem feita, nesta ocasião, por Sofia Aureliano. Descontando alguns lapsos – como o patente na página 119, em que a Autora imputa a Francisco Sá Carneiro a frase “ Em política, o que parece, é”, quando, na verdade, a autoria da frase pertence a António de Oliveira da Salazar -, é um livro bem escrito, fluente, dinâmico, com entrecruzamento entre passado, presente e futuro. E inteligentemente organizado.

8. Em segundo lugar, o mérito do livro é humanizar Passos Coelho. Ao invés do que é tradição portuguesa – tentar divinizar os líderes políticos, convertê-los em seres providenciais – , o Primeiro-Ministro surge como uma pessoa como nós. Como qualquer português – que seguiu convicções, que constituiu família cedo, teve dificuldades em determinados momentos da sua vida em obter emprego, enfrentou dificuldades financeiras já vivendo com a sua primeira esposa e com duas filhas (a mais nova com um problema de saúde), quando poderia ter utilizado as suas ligações políticas em benefício próprio, não o fez. Antes, Pedro Passos Coelho foi estudar (como trabalhador-estudante) Economia, enquanto trabalhava, de dia, no ramo imobiliário. E, mesmo no final do livro, Pedro Passos Coelho revela que, caso perca as eleições, sairá sem qualquer ressentimento com os portugueses, sem qualquer amargura, respeitando a vontade democrática dos portugueses. Ora, Passos Coelho poderia ter dito que não equaciona perder eleições, que tem a certeza que irá ganhar (aquelas frases bonitas que os especialistas em marketing político recomendam dizer para criar a dinâmica de vitória –as quais foram importadas para o futebol sob a forma de “mind games”) – mas não. Para Passos Coelho o mais importante é o conteúdo – e não a forma. Quer continuar Primeiro-Ministro para implementar um programa de reformas estruturais, desta feita sem os constrangimentos da troika – porque os portugueses entendem que o seu programa é o melhor. Dispensa, pois, o poder pelo poder. E, neste ponto, Passos Coelho diferencia-se de António Costa, que encara a política exclusivamente como um mecanismo de conquista e exercício do poder (vide o que Costa fez a Seguro e como tem sido a sua liderança, já para não falar do tratamento político humilhante a que submeteu João Proença…).

9. Em terceiro lugar, Passos Coelho tem uma característica que faz toda a diferença na política hodierna: a ilimitada resistência psicológica. Passos não cede, não soçobra perante situações limite – pelo contrário, decide mais rápido e melhor em dificuldades do que em fase de bonança. Daí preferir a ruptura – do que a gestão corrente das situações. E a política de mudança, de ruptura – do que de manutenção de aquilo que está. Não se conforma com o insucesso nacional – não aceita a tese do fatalismo histórico do nosso Portugal. E concordamos totalmente com as declarações de Pedro Santana Lopes, citadas no livro: Pedro Passos Coelho é o político português com o pensamento mais bem estruturado actualmente. Os portugueses sabem a visão que Passos Coelho tem para o futuro de Portugal. Sabem que Passos Coelho acredita mais nas pessoas do que no Estado. Como o próprio Passos Coelho afirma, pela primeira vez publicamente, é liberal, mas não é neo-liberal. Faz toda a diferença: o pensamento liberal tem tradição no PSD, tendo sido personificado pela primeira vez por Francisco Pinto Balsemão, logo na fundação do partido. Aliás, o PSD nasceu da confluência de três linhas de pensamento político-ideológico fundamentais: a social-democracia, o pensamento social-cristão e o pensamento social-liberal. Ora, Passos Coelho assume-se, neste livro, como um social-liberal.

10. Ademais, importa abordar brevemente a questão picante do livro: o tão badalado sms enviado por Paulo Portas a Passos Coelho, a apresentar a sua demissão irrevogável. Esta questão para nós só tem um efeito prático: é boa para vender livros. E, por isso, ainda bem que nasceu esta histeria colectiva acerca do sms. Obrigado a Diogo Feio por ajudar a vender mais uns quantos exemplares.

11. Agora, não consigamos entender a reacção desproporcional do CDS. Primeiro: o CDS não desmente que Paulo Portas enviou o sms a Passos Coelho com aquele conteúdo – o que significa que Sofia Aureliano e Passos Coelho dizem a verdade. E será que o CDS e Portas estão a mentir? Também não. As duas versões são complementares.

12. Primeiro, Passos Coelho reuniu com Paulo Portas, reunião em que Portas manifestou a sua desilusão pela escolha da Ministra das Finanças. Depois, Portas foi ponderar, decidiu demitir-se, escreveu uma carta que enviou para as redacções dos jornais e para Passos Coelho – e enviou antes de Passos Coelho ter lido a carta, um sms a manifestar a sua decisão. Basta comparar o livro biográfico de Passos Coelho com outro livro já publicado da autoria de Luís Reis Pires/Nuno Martins – “ Segredos de Estado” – para reconstituir os factos. O CDS tem de resolver este trauma do “irrevogável” de uma vez por todas: este episódio aconteceu mesmo –e os portugueses sabem que aconteceu. Mais vale assumir o erro e mostrar que o Governo correu bem a partir desse momento – do que tentar refutar o irrefutável, numa lógica estalinista de refazer a História. Portas quis demitir-se; a bem de Portugal, ficou no Governo; o Governo começou a correr melhor desde esse momento, o que beneficiou Portugal – e agora queremos, em conjunto, prosseguir o nosso plano reformista. Ponto final, parágrafo.

13. Sinceramente, se nós fossemos Paulo Portas e se quiséssemos manter a nossa imagem de estadista exemplar, ficaríamos muito mais preocupado com outro episódio contado por Luís Reis Pires/Nuno Martins. Segundo estes Autores, Paulo Portas abandonou uma reunião relevantíssima com a troika porque tinha de tratar de um assunto urgente. Qual era esse assunto urgente? Inaugurar um relógio da JP para contar os dias para a troika se ir embora…Comparado com este episódio do relógio, o sms é uma brincadeira de jardim escola.

14. Tudo isto dito e somado,  será que Pedro Passos Coelho é mesmo o político mais consistente da sua geração, como afirmou Carlos Moedas na apresentação? Não sabemos se é o mais consistente: Passos é certamente o mais resistente, o mais estruturado e o mais racional da sua geração. E não deixa de ser curioso notar que, não obstante as medidas impopulares, os portugueses respeitam Passos Coelho. Nem Cavaco Silva merece hoje tanto respeito dos portugueses como Passos Coelho. Muitos podem não gostar de Passos – mas respeitam-no. O que não deixa de ser uma manifestação de admiração ou de compreensão tácita por parte dos portugueses.

15. Enfim, reiteramos: vale a pena ler o livro de Sofia Aureliano. Para melhor compreendermos que (mesmo para os não-passistas, como é o nosso caso) Passos Coelho merece ser Primeiro-Ministro por mais quatro anos – e os portugueses (o nosso povo excepcional!) merecem ter Passos Coelho como Primeiro-Ministro por mais quatro anos.