As moedas e as notas de euro entraram em circulação em 2002, mas três anos antes os países começaram a funcionar com o câmbio comum. As movimentações bancárias e a dívida dos Estados, por exemplo, passaram a ser denominadas em euros.
Os 16 anos de moeda única provocaram uma mudança de paradigma. As economias mais pobres passaram a ter a mesma moeda dos mais ricos num momento complexo a nível global. Atravessaram a crise da bolha tecnológica no início do milénio, o colapso do imobiliário subprime em 2008/2009 e a crise das dívidas soberanas a partir de 2010.
Os efeitos não foram simétricos no Norte e no Sul da Europa. Para compreender a evolução de cada país, o SOL solicitou ao director do mestrado em Economia Monetária e Financeira do ISCTE, Emanuel Leão, um estudo sobre evolução das economias do euro desde a criação da moeda única.
O docente calculou as taxas médias de crescimento antes e depois da entrada no euro e a primeira constatação é pouco encorajadora: todos os países fundadores da moeda única cresceram menos desde que foi criada a moeda única, face às décadas anteriores. “Para este resultado contribuiu muito a crise do subprime e a crise da dívida soberana da zona euro”, explica o economista.
Os vencedores do Norte
Há, contudo, países que foram menos afectados. Nos 16 anos de moeda única, a Irlanda cresceu a uma média anual de 3,2%. Não só ganhou este campeonato como foi um dos países, juntamente com a Bélgica e a Áustria, em que o desempenho dentro da Zona Euro menos desacelerou face às décadas anteriores.
“Nos países do centro e norte da Europa a existência de uma moeda única, ao eliminar o risco cambial, favoreceu o desenvolvimento e aprofundamento das transacções económicas e dos negócios entre os vários países”, aponta Emanuel Leão.
Com a integração num espaço monetário com economias mais fracas, o euro está “comparativamente depreciado em relação à moeda que teriam se estivessem sozinhos com uma divisa própria”.
O euro depreciado representa assim um “estímulo para as exportações” no Norte europeu. Claro que há depois factores internos que têm impacto. Na Alemanha, a política de moderação salarial permitiu ganhos de competitividade e a entrada da China no comércio mundial trouxe novas possibilidades de exportação de bens como electrodomésticos e automóveis alemães.
A Irlanda também é um caso específico. Antes da crise do subprime, estava a registar um forte crescimento económico, baseado em investimento estrangeiro. A capacidade para atrair capitais do exterior tem a ver com a forte ligação aos EUA – há 40 milhões de pessoas de origem irlandesa nos Estados Unidos e muitos deles são empresários – , a existência de recursos humanos muito qualificados e que falam Inglês e uma política fiscal favorável às empresas.
O sistema bancário do país teve dificuldades na crise do subprime, com efeitos nas contas públicas, mas passado o impacto do choque “os fundamentos da economia irlandesa voltaram a afirmar-se”.
Sul ficou para trás
Nos 16 anos de moeda única, os que ficaram com pior posição na corrida do PIB foram os países do Sul da Europa. Os países onde o crescimento económico mais desacelerou foram a Grécia, a Itália e Portugal, segundo os cálculos de Emanuel Leão.
“Para países como Portugal – que dependem muito de exportações – uma moeda tão forte como o euro dificulta o crescimento das respectivas exportações”, explica o docente. E ilustra: “Com muita gente a querer comprar automóveis alemães, electrodomésticos alemães e maquinaria industrial alemã, há uma enorme procura de euros, o que torna o euro uma moeda forte”.
Em simultâneo, as taxas de juro baixas durante anos, no início do euro, “conduziram a um enorme endividamento das famílias e das empresas, o que dificulta a expansão da procura interna”.
Também aqui há casos especiais. Espanha conseguiu ter um desempenho muito favorável nos primeiros anos do euro, mas graças a uma bolha no mercado imobiliário alimentada por crédito bancário. Nos últimos anos ressentiu-se.
No Sul da Europa, Portugal é um dos casos mais graves, e não apenas por estar no grupo que menos cresceu. Foi, acima de tudo, o que mais abrandou desde a criação do euro. Nas duas décadas antes da moeda única, o país cresceu a uma média de 3,5%. Depois do euro, o andamento é sofrível: 0,5% ao ano.