‘Seria necessário os alemães sentirem-se mais europeus’

Política orçamental da Zona Euro devia permitir mais flexibilidade, defende Emanuel Leão, economista do ISCTE.

A moeda única é penalizadora para os países menos competitivos da Zona Euro, como Portugal e Grécia?

Sim. Para quem funciona com uma moeda forte como o euro, a única forma de conseguir uma expansão significativa e consistente das exportações é através do aumento da competitividade. Apesar de tudo, o desempenho das exportações portuguesas, não tendo sido brilhante, foi bastante positivo.

Que falhas vê na arquitectura da Zona Euro?

A moeda única tem vantagens e desvantagens. A principal vantagem é a inexistência de instabilidade e de imprevisibilidade cambial entre os países membros. Nas desvantagens, o principal problema é o facto de implicar uma política monetária ‘one-size-fits-all’. Ou seja, o facto de o banco central fixar a mesma taxa de juro para todos os países da Zona Euro faz com que, em cada momento, alguns países se queixem de que a taxa de juro é demasiado alta para as necessidades da sua economia enquanto outros se queixam de a taxa de juro ser demasiado baixa em relação às respectivas necessidades.

Que soluções poderia haver?

Uma solução seria ter uma política orçamental centralizada a nível da Zona Euro – ou a nível da União Europeia –, mas que permitisse, em cada momento, estimular a despesa pública em países que têm falta de despesa e reduzir a despesa pública em países onde existissem tensões inflacionistas – de preferência mantendo o orçamento público global da Zona Euro aproximadamente equilibrado.

É uma ideia de difícil acolhimento na Europa…

Sim. Para que este tipo de política fosse aceite seria necessário que os alemães se sentissem mais europeus do que alemães e que reconhecessem que também eles beneficiariam com um crescimento mais harmonizado da economia europeia, através do impacto que isso teria nas suas exportações para os países da Zona Euro. Refiro os alemães porque têm maior poder de decisão no cenário europeu. Obviamente poderia dizer o mesmo de outros povos, como os finlandeses.

O que tem sido decidido na governção europeia não ajuda?

Em vez de uma política orçamental que compensasse as deficiências da política monetária, o que temos são as regras do Pacto de Estabilidade e Crescimento e, mais recentemente, do Tratado Orçamental, que limitam fortemente a capacidade de os Governos nacionais usarem a política orçamental para regular a despesa agregada.

joao.madeira@sol.pt