Marx em Veneza

A abertura da 56.ª Bienal de Veneza, que decorre no sábado, foi antecipada um mês com o objectivo de capitalizar mais turistas que se desloquem à Expo de Milão.

À partida parece não haver muitas linhas de diálogo entre a feira universal – da qual Portugal está ausente – e a grande mostra de arte. Mas há. A norte, ‘Alimentar o planeta, energia para a vida’ é o mote. Fome, desigualdades, consciencialização política, são algumas das palavras de ordem que o tema sugere. E em Veneza, sob o título ‘Todos os Mundos Futuros’, os artistas seleccionados reflectiram sobre alguns dos temas quentes presentes em Milão ou de alguma forma relacionados (alterações climáticas, migrações), além de outros temas mais gerais como a discriminação sexual ou a perseguição política.

A representação portuguesa está a cargo de João Louro. A María de Corral, curadora da exposição – que irá ocupar um andar do Palazzo Loredan, no centro de Veneza – afirma que “a João Louro interessa gerar novos aspectos semânticos e pôr em dúvida as normas aceites pela nossa cultura visual, criando lugares inventados, imaginando cenas e habitando palavras que nos permitem cultivar os nossos desejos e aspirações mais profundas”. O artista lisboeta apresenta ‘I’ll be your Mirror – Poems and problems’, partindo de um tema do grupo Velvet Underground e em resposta ao desafio do comissário da exposição, Okwui Enwezor.

O nigeriano escolheu os 136 artistas participantes, provenientes de 36 países, com base na atitude crítica dos criadores. Prova da politização da Bienal, Enwezor programou a leitura de excertos, duas vezes ao dia, de O Capital, de Karl Marx. “O Capital é o drama da nossa época, que governa os dois sítios onde se produz economia: a fábrica e a Bolsa”, explicou aos jornalistas.

cesar.avo@sol.pt