A greve agendada pelo sindicato de pilotos (SPAC) da TAP e da PGA ganhou nos últimos dias um novo ‘picante’, centrado na figura de Paulo Lino da Silva Rodrigues. É, ao mesmo tempo, comandante de longo curso da companhia de bandeira, conhecido como Lino da Silva, e assessor financeiro do sindicato, assumindo o papel de economista Paulo Rodrigues.
Ex-oficial da Força Aérea, não sindicalizado, terá sido um dos estrategas do protesto dos pilotos iniciado a 1 de Maio e que termina domingo. Mais do que isso, Lino da Silva Rodrigues tem estado nalgumas das principais negociações que o SPAC tem tido com a administração da TAP. Em 1999 participou na discussão do acordo que visava dar até 20% da empresa aos pilotos quando houvesse privatização – e que é um dos motivos da actual paralisação.
Com formação em Gestão, em 2007 e 2008 também prestou serviços de consultoria nas discussões em torno das condições laborais, que lhe terão valido honorários de pelo menos 1,17 milhões de euros, segundo o programa Sexta às 9, da RTP. Com a eleição de uma nova direcção, em Novembro passado, voltou a ter um papel de relevo no sindicato e uma presença influente tanto nas conversações relativas ao caderno de encargos da privatização, que permitiram cancelar a greve do final do ano, como nas deste protesto.
Segundo o mesmo programa televisivo, a preparação desta greve já rendeu 170 mil euros. Recebe 250 euros à hora – valor acertado para os próximos dois anos – e já trabalhou 680 horas. Do lado do SPAC, o dirigente Helder Santinhos já classificou este pagamento como «razoável».
A sua influência junto da direcção do SPAC não é consensual e levou mesmo alguns associados a desvincularem-se do sindicato. O presidente da TAP, Fernando Pinto, recusa falar com ele. No encontro entre a administração e alguns membros do sindicato, entre os quais o presidente, Manuel Santos Cardoso, horas antes do início da greve, ter-se-á chegado a um pré-acordo para desconvocar a acção. Mas a opinião de Lino da Silva Rodrigues terá sido decisiva para o fracasso do acordado e a manutenção da greve.
Dias depois da reportagem da RTP, o sindicato emitiu um comunicado interno explicando que «o consultor do SPAC decidiu revogar o contrato que o vinculava legitimamente a esta instituição, com efeitos imediatos e com a concordância da Direcção, e juntou-se a esta luta na sua qualidade de piloto, continuando a exercer graciosamente as funções que lhe têm sido até aqui cometidas, em benefício dos pilotos».
O SOL tentou contactar Lino da Silva Rodrigues através da assessoria de comunicação do SPAC, mas sem sucesso. O sindicato justifica o silêncio com «sigilo profissional» e «dever de lealdade».
Entretanto, o sindicato convocou para hoje um encontro com jornalistas para, a dois dias do fim da greve, explicar as razões que levaram à sua convocação. Desde 1 de Maio que os números de adesão divulgados pela TAP – que aponta uma média de 70% dos voos realizados até quarta-feira e 85% ontem – divergem dos do sindicato, que ontem falava em 62% de ligações realizadas.