Aos cem dias de reinado, Salman já deu mais sinais de mudança do que nos dez anos do antecessor, Abdullah. É sensível à opinião das redes sociais: já despediu um ministro da Saúde após um vídeo mostrar um cidadão queixoso da qualidade de um hospital a ser insultado pelo ministro. A mesma sorte teve um assessor do Rei na segunda-feira, após ter agredido um fotógrafo quando este registava o cumprimento entre Salman e o homólogo marroquino, Mohamed VI, momento que também se tornou viral.
A única mulher presente no Governo, a vice-ministra da Educação, foi afastada na remodelação ocorrida há dias. Num país que continua a tratar as mulheres de forma discriminatória ao ponto de não poderem conduzir automóveis, aparenta ser mais uma machadada na esperança feminina de progresso rumo à dignidade. Mas há sinais contrários. Pela primeira vez, as mulheres serão chamadas a votar. Será em Agosto, em eleições municipais. E nesta semana foi nomeada uma mulher, Thoraya Obaid, para presidir o comité dos direitos humanos da Shura, o conselho consultivo do monarca.
Rei morto, herdeiro deposto
Mas a mais importante de todas as medidas de Salman, até agora, foi a mudança da linha sucessória. Apagando a vontade de Abdullah, o novo Rei retirou o meio-irmão Muqrin da lista de sucessores. Para o seu lugar foi o ministro do Interior, Mohammed bin Nayef, 15 anos mais novo, o primeiro príncipe herdeiro que não é filho de Ibn Saud, o primeiro Rei da Arábia Saudita.
Como Nayef não tem filhos varões, foi designado seu sucessor o primo – e filho de Salman – Mohammed bin Salman. Aos 35 anos, acumula poder: ministro da Defesa, chefe do protocolo real e chairman da petrolífera Aramco. A empresa, por sua vez, deixa de estar dependente do Ministério do Petróleo.
Da renovação ministerial, registe-se ainda a saída de Saud bin Faisal do posto de ministro dos Negócios Estrangeiros ao fim de quarenta anos de serviço. Para o seu lugar foi chamado de Washington o embaixador Adel bin Ahmed Al-Jubeir. Estas mexidas tiveram como resultado um novo perfil do país no que se refere ao seu papel de potência regional.
O vizinho Iémen é o mais recente exemplo da agressividade com que Riade passou a tratar os seus rivais. As milícias xiitas Houthi, apoiadas pelo Irão, e os aliados do anterior Presidente Saleh, financiado pelos Emirados, têm sido bombardeados por uma coligação liderada pela Arábia Saudita. Além das infra-estruturas atingidas no país mais pobre da região, os ataques – realizados sem aval das Nações Unidas – fizeram centenas de mortos. Uma demonstração de força do filho do Rei.
Na terça-feira, pela primeira vez, os iemenitas responderam, entrando em território saudita, tomando postos e reféns e bombardeando a cidade de Najran. Resultado: três mortos e a certeza de que o conflito está longe de terminar.
Também na Síria o reino de Saud passou a ter um papel mais interventivo. Com relações renovadas com a Turquia de Erdogan, o apoio a grupos de combatentes anti-Assad que não o Estado Islâmico começa a dar frutos no Norte sírio.
É neste contexto que Barack Obama recebe na próxima semana os líderes do Conselho de Cooperação do Golfo. Em Camp David, nos dias 13 e 14, o Presidente dos Estados Unidos vai tentar convencer os países árabes de que um acordo sobre a questão nuclear com o Irão – país muçulmano, mas não sunita nem árabe – é positivo para o Médio Oriente. Não será fácil.