‘Não me lembro de alguma vez me ter ido abaixo’

Na recta final da entrevista concedida à TABU, Olivier Costa fala dos primeiros negócios que lhe renderam milhares de euros, ainda durante a adolescência, e revela como trocou o golfe pela restauração, seguindo o exemplo do pai. À beira dos 40 anos, o sempre polémico empresário confessa o amor pelos dois filhos e pela mulher,…

Quando começou a jogar golfe?

Foi por volta dos 17, em simultâneo com a escola de hotelaria. Foi o meu pai que me ensinou e jogava com ele. Mas como não era bom na escola, em tudo o resto que fazia queria ser o melhor e cheguei a ser da selecção. Foi no golfe, na Aroeira, que conheci o John, um americano casado com uma portuguesa, que foi muito importante para mim porque me abriu os horizontes. Já tinha umas bases muito grandes em termos de restauração, já tinha uma grande cultura gastronómica, mas não era internacional, como a dele. Quando o conheci basicamente mudei-me para casa deles. De manhã jogávamos golfe, depois íamos às compras para fazermos o jantar. Íamos ao Pão d’Açúcar das Amoreiras. Foi com ele que conheci coisas como o queijo feta, as vieiras, o foie gras. Ele foi a minha escola de cozinha. Não foi o meu pai, foi o John.

Como é que o seu pai, um chefe reputado, lidou com o facto de ter saído de casa e ter ido aprender com outra pessoa?

É um assunto complicado… Houve um descarrilamento familiar. Se aos 16 anos alguém tivesse de apostar que eu iria ser o homem que sou, não havia ninguém a apostar. Nunca me droguei, mas era meio delinquente. Nunca fui o bom aluno que foi para a universidade. Mas comecei cedo com negócios.

Quando começou a ter negócios ligados à gastronomia?

Comecei a importar foie gras de França para Portugal e vendia às pessoas do golfe. Vendi brutalidades daquilo. Depois, aos 17 anos, comecei a importar outros produtos e a fazer cabazes de Natal para as empresas. Ganhei milhares de euros. Dos 17 até há cerca de quatro ou cinco anos este foi o meu segundo negócio mais rentável. No antepenúltimo ano vendi 12 mil cabazes.

Tem ideia do primeiro prato que cozinhou?

Não sei. Mas o que fazia mais era carbonara.

Disse noutras entrevistas que pensou ser golfista. O que o fez mudar de ideias?

Lembro-me exactamente do buraco em que estava e das pessoas com quem estava… Disse a mim próprio que ia acabar com aquela parvoíce. Estava a fazer os cabazes de Natal e a ganhar muito dinheiro, para aí uns 15 mil contos de lucro, apenas em dois ou três meses de trabalho. Com 19 anos era o mais rico dos meus amigos e ganhava mais que o meu pai.

É nesta altura que vai trabalhar com o seu pai?

Em Julho de 1997 vou para a esplanada do Castelo, que era do meu pai. A partir daí foi tudo muito rápido. As pessoas dizem que tive sorte, mas não tive um caminho fácil. No entanto, não voltaria atrás. Nunca me faltou nada, apesar de as coisas não terem corrido bem ao meu pai.

O seu pai, tendo sido um chefe de cozinha muito reputado, acabou por passar muitas dificuldades financeiras…

O meu pai é um artista, mas – tenho pena de dizer isto – nunca foi um gestor. Foi enganado muitas vezes. Como nasci no mesmo dia e à mesma hora que o meu pai, tenho aquela coisa do destino. Por isso tenho tanto medo que me roubem. Aprendi com os erros do meu pai para não os repetir.

Imagino que deseja que, daqui a 20 anos, nenhum dos seus filhos esteja na posição em que o Olivier esteve de ter de emitir um comunicado a dizer que não tinha negócios com o seu pai, na sequência de acusações de fraude de que o Michel foi alvo.

Se acontecer, espero que eles tenham a mesma atitude que eu tive. O meu pai foi preso por uma parvoíce, que nem sequer era ele, e isso foi provado. Acho que isto foi um grupo de pessoas, aos quais eu chamo Soaristas, que na altura eram intocáveis. Não havia planos de futuro. O meu pai achava-se intocável, porque era conhecido e porque os polícias gostavam dele. As coisas, se calhar, não lhe correram bem. Não vou por aí, ele é maior de idade e faz o que quiser. Ele é meu pai, eu sou filho dele.

Não têm uma relação próxima?

Éramos mais unidos, agora somos mais distantes, já o éramos ainda antes deste processo. Mas somos pai e filho. Mas tenho um problema que é ter a cruz que tenho: sou eu que praticamente pago tudo a toda a minha família, à minha mãe, à minha avó, ao meu pai, à minha irmã Sofia… Basicamente fui eu que nos últimos anos sustentei a minha família. E continuo a sustentar e ainda mais agora. Podia ter sido aquele filho que diz que não tem nada a ver com isso, mas se tenho a possibilidade…

O que recorda desse primeiro negócio na esplanada do Castelo?

O meu pai fazia gelados, saladas e hambúrgueres até às 17h. Eu entrava às 18h e fazia picanha fatiada, com arroz e feijão. Foi um sucesso. Metade do dinheiro era para mim, outra metade era para o meu pai. Claro que, como não havia gestão da parte do meu pai, aquilo acabou mal.

Como?

Comigo a bater num vereador da câmara porque o meu pai não pagava as rendas e o vereador entrou pela cozinha a insultá-lo. Dei-lhe uma cabeçada. No dia a seguir ficámos logo sem esplanada. Depois, para aí em 2000, abri um restaurante chamado Olímpio, no antigo Michel, mas tive problemas com a vizinhança que atirava baldes de lixívia aos meus clientes. Quando resolvi isso e o negócio começou a subir, a Câmara diz que temos de fechar porque vão fazer o Plano Integrado do Castelo. Deram-me mil euros por mês e supostamente iam entregar o prédio todo recuperado. O prédio já não existe e entretanto deixaram de me pagar. Fiquei sem nada. Mas ainda continuo a pagar renda a uma senhora que acho que até já morreu.

O que foi fazer depois disso?

Fui trabalhar com um tio meu, que tinha uma coisa chamada Ser-Veja-Ria. Fui fazer, no andar de cima, o Bistrot XXI. Nesta altura fui um Verão trabalhar na Casa do Castelo, com o Luís Evaristo e foi isso que me deu um boom enorme. Quando regressei a Lisboa, o meu tio vendeu o restaurante, mas logo de seguida fui com o meu pai a um programa de televisão e um senhor que viu ligou-me a perguntar se queria ficar com um restaurante. Ainda hoje o trato por papá porque ele foi com um pai para mim: deixou-me ficar com o restaurante e pagar o que quisesse. Foi o primeiro Olivier. Tinha o primeiro menu de degustação e o primeiro petit gateaux de chocolate de Lisboa. Era um restaurante muito giro, pequenino. Foi o ponto de viragem.

Entretanto passaram mais de dez anos e tem, como referiu, cinco restaurantes. Acha que algum dos seus dois filhos poderá seguir o seu exemplo?

A cultura gastronómica dos meus filhos é inacreditável. O Lucas tem dez anos e o Mateus 12. O Lucas é igualzinho a mim em termos de personalidade, o Mateus é mais mãe. No outro dia, era domingo, cheguei ao pé deles e disse: ‘Vamos jantar!’. E o Lucas responde-me: ‘Onde?’. Eles querem escolher o que comem. Os miúdos destas idades comem bife, os meus não. Também vão ao McDonald’s, mas adoram sushi, indiano, marroquino… Quando era miúdo também adorava comer, mas não tinha provado as coisas que eles já provaram. Eles já foram a todo o lado no mundo, Londres, Marrocos, Miami, Tailândia…

Consegue desligar o telefone quando faz essas viagens com eles?

Não… Mas tenho uma coisa muito gira com eles: estou a incutir-lhes o bichinho do golfe. O meu maior sonho é que eles joguem bem golfe para podermos jogar os três. Mais uns três ou quatro anos acho que já vão estar ao meu nível e isto será possível. Sou muito agarrado aos meus filhos. Somos muito unidos. Na separação eles sofreram e tive de resolver o problema. Fiz a porcaria, tive de a resolver.

Essa ‘porcaria’ que refere tem a ver com a relação que teve com a modelo Liliana Aguiar. De repente viu a sua separação nas capas das revistas. Como lidou com isso?

Isso foi um percalço, uma coisa que não controlei. Na altura tinha tempo a mais e deu merda. E a pessoa em causa, de que eu nem quero falar, foi mal escolhida, foi um erro de casting. Posso dizer que, hoje em dia, estou a passar dos momentos mais felizes em termos de filhos e mulher.

No início desta conversa referiu que em tempos foi a um psicólogo. Isso quer dizer que o ‘Olivier locomotiva-que-não-olha-para-trás’ também se sente em baixo?

Fui quatro vezes. Não tenho paciência! Não me lembro de alguma vez me ter ido abaixo. Acha que eu tenho tempo para estar choroso? Fui ao psicólogo na altura difícil da separação, também por causa dos miúdos. Mas eu estou muito clear na cabeça daquilo que é bom e daquilo que é mau, e daquilo que eu quero.

Em Setembro faz 40 anos. Como lida com esse número?

Ainda não pensei muito nisso. Para mim ainda tenho 18 anos.

raquel.carrilho@sol.pt