“A companhia tem cerca de seis actores, todos com deficiência, e nunca trabalhamos com textos já feitos. É sempre tudo uma criação deles a partir dos temas que lhes interessam”, explica Bruce Gladwin, encenador e responsável pela companhia australiana Back to Back Theatre. E acontece que o facto de serem australianos esteve até na origem de se terem passado dois anos entre o nascimento desta ideia e a sua concretização – “Começámos a questionar-nos e a sentir que não tínhamos o direito de contar esta história, de fazer esta apropriação cultural”.
Só mais tarde é que um momento tão marcante da história europeia e um elemento tão forte do pensamento hindu se encontraram com uma narrativa paralela que deu nova vida à ideia deste grupo. “Muita gente duvida que as coisas sejam mesmo feitas pelos actores, acham os textos demasiado inteligentes ou insinuam que eles estão a ser explorados. E foi aí que percebemos que seria interessante juntar a este contexto uma autobiografia ficcional da companhia”.
É a peça dentro da peça, os dilemas da companhia no meio da viagem épica de um deus entre cortinas de plástico, da Austrália à Alemanha, mas tudo na mesma direcção – o “questionamento do abuso de poder”, desde o mais global ao mais doméstico.