“Queremos dizer às pessoas que o Presidente da Rússia – um homem que controla armas nucleares e lidera um país enorme – está a mentir ao povo russo e a todo o mundo”, disse Ilya Yashin, um dos melhores amigos que Nemtsov, que participou na finalização do relatório.
O documento acusa o Kremlin de ter investido mais de 450 milhões de dólares numa força de seis mil ‘voluntários’ na Ucrânia, outros 560 milhões no apoio aos grupos separatistas do Leste da Ucrânia e ainda 157 milhões na manutenção e reparação de material militar.
Segundo os autores do relatório, entre os quais se encontram o ex-primeiro-ministro Mikhail Kasyanov ou os economistas Sergei Aleksashenko e Alfred Koch, o apoio aos separatistas pretende “criar uma vantagem negocial face ao Ocidente”, pois permitirá à Rússia negociar a retirada na Ucrânia em troca do fim das sanções económicas que se seguiram à anexação da Crimeia no início de 2014.
O texto inclui entrevistas com familiares de soldados russos enviados para a Ucrânia, alguns deles mortos em combate. E chega a avançar que o regime investiu mais de dois milhões de rublos (ou 35 mil euros) a silenciar as famílias que perderam membros no conflito.
Só desde o início do ano terão sido mais de 70 os militares russos mortos na Ucrânia, a maior parte deles à volta de Debaltseve, um ponto estratégico entre os dois principais bastiões separatistas cujo controlo foi disputado até aos minutos anteriores à entrada em vigor do cessar-fogo decretado no segundo acordo de Minsk.
Outros 150 soldados russos terão sido mortos nas batalhas que se deram no Leste da Ucrânia durante o avanço do Exército de Kiev que se seguiu à eleição de Petro Porochenko para a presidência do país. “O Governo russo deu apoio político, económico e pessoa, assim como assistência militar directa aos separatistas”, acusa o documento que garante ainda haver cerca de 10 mil militares russos do outro lado da fronteira.
Os signatários dizem ter encontrado a informação no material deixado por Nemtsov, onde se estava também um escrito onde este apelava “à realização do relatório” e à sua “divulgação em larga escala”, incluindo a “distribuição gratuita nas ruas”. Os seus amigos lamentam agora não terem sido capazes de encontrar uma editora que aceitasse tal desafio.
Mas este não será o único relatório a revelar a acção de Putin na Ucrânia: O Conselho do Atlântico, um think-thank com base em Washington, anunciou que nas próximas semanas publicará um documento que “dará provas irrefutáveis que expõem a largura e profundidade do envolvimento militar da Rússia no Leste da Ucrânia”.
“O relatório documentará o movimento das tropas russas dos campos de treino até à Ucrânia. E também demonstrará que muitos dos ataques de artilharia na Ucrânia tiveram origem na Rússia, ao mesmo tempo que examina o grande arsenal de equipamento russo que está nas mãos das forças separatistas”, avisa o comunicado do Conselho.