Tem clientes que o acompanham desde o início e que passaram a amigos?
Muitos.
Continuam a pagar a conta?
Tenho uma regra base: quando me sento à mesa de alguém, essas pessoas não pagam. Acho que não fica bem. Todos os dias tenho amigos, alguns que começaram como clientes, para jantarem comigo. Acho feio fazer desconto. Gosto muito de dar. Agora que tenho um novo projecto, aos meus bons clientes ofereço o jantar ou uma garrafa de champanhe.
Esses clientes que o acompanham há mais anos, mais tradicionais, nunca lhe dizem que não vão jantar ao Guilty porque há mulheres a dançar no balcão?
Havia. Mas tenho de desmistificar o Guilty. Guilty significa culpado e foi desenhado para ser aquilo que é: um Hooters misturado com um Hard Rock Café, com comida boa. Foi dos melhores conceitos que fiz até hoje. Onde é que há, em Lisboa, um restaurante como o Guilty? O Guilty fez tendência. Fui o primeiro a pôr fogo-de-artifício nas garrafas de champanhe. Hoje em dia todos o fazem. O homem que vende isso antes vendia três ou quatro e agora vende centenas. Eu marco tendências. Podem gostar ou não. Mas isso ninguém me pode tirar. Está mais do que provado que sou uma pessoa que cria tendências. Sou eu que crio a tendência e depois toda a gente copia.
Logo em 2011, o Guilty fez as manchetes dos jornais devido aos sucessivos encerramentos ditados pela ASAE. O que aconteceu?
Diziam que as pessoas não podiam dançar porque eu não tinha licença de dança. Mas eu não podia dizer às pessoas que não podiam dançar porque somos um país democrático e livre. Eu tinha razão e quando eu sei que tenho razão vou até ao fim. Um dos factores principais de o [António] Nunes da ASAE não ter renovado o mandato foi esta situação e a da ponte que ele fez a seguir. Ele usava o poder como queria e veio atacar-me sem eu ter feito nada.
Sente que foi perseguido?
Vou-lhe explicar porquê. Porque fui ao beija-mão e ele não gostou da maneira como fui ao beija-mão. Eu tinha um restaurante em que me foi feita uma fiscalização normal da ASAE e eu, por inexperiência, não tinha o licenciamento devido. Esse licenciamento foi-me concedido depois de haver risco de todos os restaurantes aqui da área, que também não tinham licenciamento, fecharem. Era uma barraca a Câmara fechar cinco restaurantes de uma vez, no centro de Lisboa, por isso recebemos todos uma declaração de que estávamos a tratar da papelada, para nos largarem. Depois disto, começaram a atacar-me com a história da dança.
Como resolveu a situação?
Fui ter uma reunião com ele e nem me queria receber. Fui com o presidente da ARESP, para tentar chegar a alguma solução porque eles todos os dias, às 2h da manhã, iam fechar-me o restaurante, a dizer que não tínhamos licença. Estavam a arrasar com o meu negócio. Até ao ponto de me prenderem três vezes por desrespeito à autoridade. Entretanto ele diz-me: ‘Querem resolver isto?’. E explica que temos de pedir a licença de espaço de dança à Câmara. Ele pensava que, como para obter essa licença tinha de se pedir um parecer à Junta de Freguesia, outro à Polícia Municipal e outro à Polícia Civil, aquilo ia levar não sei quantos anos. Só que eu tenho conhecimentos e em duas semanas tinha a coisa resolvida. Ele não estava à espera! Depois de tudo isto fui para tribunal e ganhei.
Foi indemnizado?
Não porque não pedi uma indemnização. Não queria ganhar dinheiro, queria era tramar o gajo. E ele nunca iria pagar nada, quem iria pagar era o Estado! Mas na sentença a juíza incluiu um parágrafo em que dizia que podíamos ter pedido uma indemnização. Mas quis seguir em frente. E a verdade é que depois disso o Guilty bombou, bombou, bombou…
Até que houve um tiroteio lá dentro…
Pois… Tive sorte e azar ao mesmo tempo. Podia ter sido muito mais grave. Mas de facto foi uma cena cá fora, à qual estou completamente alheio. Lá dentro estava gente giríssima. Apareceu um preto aí da noite, estava outro preto lá dentro, de repente saem cá para fora, desatam à pancada, e há um que pega numa arma e desata aos tiros. O outro salta lá para dentro do Guilty e a bala entrou lá para dentro. Se tivesse acertado em alguém que não fosse conhecido, tinha ficado por ali. Mas como acertou na [actriz] Ana Brito e Cunha, pronto…
Na altura, no diz que disse, comentou-se que um dos envolvidos era segurança do Guilty…
Nada disso! Há dias em que me irrito com essas coisas, quando é mesquinho e atirado ao ar, como aquelas histórias de que eu passava droga e armas para Angola e que era o testa-de-ferro do Kopelipa. Tudo porque fretei um avião para levar mil cabazes de Natal para Angola. A verdade é que as pessoas não conseguem perceber como é que o Olivier, com 39 anos, anda de Ferrari, tem um Bentley, faz a vida que faz… Mas eu digo: trabalhando. Nenhum dia da minha vida trabalhei menos de 12 horas.
Há muita gente que trabalha e nunca chega a ter dinheiro para a roda de um Ferrari…
Directamente declaro quase seis milhões de euros. Mais as parcerias. A marca Olivier factura quase dez milhões. Se calhar, para o ano, factura 15. Sou dedicado a 100% aos meus trabalhos e aos meus filhos.
Para alguém que diz isso, não acredito que fique indiferente ao facto de muita gente achar que o Guilty é uma casa de prostituição.
Vou explicar porquê. Eu não posso esconder que tenho uma fama de mulherengo. Qualquer homem com dinheiro, que não se droga e que não bebe, tem de ter um vício. Eu gosto de mulheres bonitas. Não é nenhum segredo. Já me separei várias vezes por outras mulheres. Acontece. É o único problema que tenho. Que graças a Deus não é nenhum problema! Podem falar que aquilo tem miúdas que fazem isto e aquilo. Mas nunca assisti. Em qualquer sítio que venda copos à noite há sempre umas miúdas mais oferecidas e há sempre droga. Mas vamos deixar de ser hipócritas: de facto eu pago presenças às miúdas. Não vou mentir.
Presenças é uma coisa, prostituição é outra.
Dentro do meu restaurante, quando sei que alguma miúda faz uma proposta, já não é nossa Oliviette. Sim, porque é verdade que existem as Oliviettes. Isto faz-se em todo o lado da Europa, mas mais uma vez fui o pioneiro em Portugal. Fui o pioneiro a trazer as miúdas e a pagar-lhes para fazerem presenças. Agora fazem todos igual. Se for ao Main tem miúdas giras. Se calhar, se fizer o seu trabalho de casa, também elas se vendem. E não é por causa disso que se diz que o Main é só putas. Porquê? Porque, como o Guilty é mais pequenino, se eu tenho 20 miúdas, automaticamente para o português aquilo é uma casa de putas. O Guilty é a noite mais gira de Lisboa para um homem solteiro sair ou até um casado que se queira divertir – em vez de ir para o Elefante Branco, que é mesmo de putas. Ali não são putas, são miúdas. E ou ele tem jeito ou não tem, mas isso já é problema dele.
Actualmente os principais clientes do Guilty são angolanos?
Não posso negar que o angolano é uma super ajuda ao grupo Olivier. Os angolanos e os brasileiros são quem mete óleo nos motores. E quem disser o contrário na restauração de luxo está completamente enganado. Quem disser que não precisa nem gosta dos angolanos está a ser hipócrita. Acho inacreditável o que estão a fazer aos angolanos.
Por que diz isso?
É a perseguição, o racismo, as perguntas: ‘De onde é que veio o dinheiro?’. E eles estão a desaparecer.
Não é legítimo perguntar? Ou quando se tem um negócio o importante é facturar e não interessa de onde vem o dinheiro?
Acho que os angolanos não são a al-Qaeda ou o Estado Islâmico. Não matam ninguém. Em Angola, o Presidente não manda matar as pessoas. É um país democrático e aquilo vai funcionando. O dinheiro vem do petróleo, se declaram ou não, não é nosso problema. São esquemas deles lá. Queremos é que venham cá gastar. Eles são o motor da economia de luxo em Portugal.
Para alguém que tem uma fatia tão grande de clientes angolanos e um parceiro angolano, o General Kopelipa…
Está enganada, não tenho um parceiro angolano.
Mas em tempos teve.
Não posso falar sobre isso.
Mas tem sócios?
Tenho um sócio, mas não é angolano. Quer dizer, não é bem sócio, é um padrinho.
É português?
Não posso dizer.
Nunca dá a cara?
Não precisa. Não vive cá. É uma pessoa que sempre me ajudou e que eu, por uma questão de lealdade, quando abro um restaurante, pergunto-lhe: ‘Queres entrar?’. Se quer dá X. Se não quer, amigos como dantes.
Não pensa abrir um projecto em Angola?
Todos os dias me aliciam para isso. Não fui porque ainda não tive as condições para o fazer. Estive quase a fazer um negócio com a Tchizé [dos Santos], que é minha cliente e amiga, e tive outras propostas, mas nunca surgiu. Tenho de estar mais debruçado no negócio aqui do que ir para Angola. O do Brasil, no Sheraton no Recife, foi mais simples: dou a cara pela carta, mas o restaurante é deles.