A salvação faz-se através da música

A haver alguém que tenha influenciado Mazgani a fazer canções, essa pessoa é, sem hesitações, Leonard Cohen. O músico português de origem iraniana – nasceu em Teerão e veio viver para o nosso país com cinco anos de idade – lembra-se de ouvir Cohen em duas fases distintas: “quando era gaiato”, muito novo para se…

Foi, por isso, com enorme satisfação que Mazgani recebeu o 'OK' do “culpado” pela sua carreira para fazer uma versão de 'If it Be Your Will' , mas quando se propôs gravar Cohen “sabia que ia falhar redondamente”. “Era essa a proposta. O Beckett dizia 'falhar, falhar de novo, falhar cada vez melhor'. Sabia que não ia cantar tão bem como o Elvis, o Lee Hazelwood, o Ottis Redding, mas só falhando é que nos podemos aproximar dos nossos ídolos”.

A par dos artistas citados, Mazgani escolheu ainda, entre outros, temas de PJ Harvey, Cole Porter e Hedy West, interpretando canções que preenchem um intervalo de 70/80 anos de música. E é a sua voz e interpretação que criam o fio condutor do álbum. Mas também, sublinha o músico, o facto de haver “uma temática que passa por todo o disco”. “São canções de saudade, de algum anseio, há sentimentos de distância e exílio. Essa é sempre a estética que mais me interessa”.

A selecção, além de reflectir o gosto ecléctico do músico, espelha igualmente a crença de Mazgani de que “as canções inscrevem-se na geografia das coisas que nos podem salvar”. No seu caso particular, salvou-o de uma carreira em advocacia quando não encontra motivação para a assumir. “Nunca vi a música como uma epifania. Comecei a lançar discos aos 30, o que no rock devia ser a idade da reforma. Em certa medida, esta carreira resultou de uma decisão preguiçosa, porque é fácil dizer o que não queremos. Ainda assim, a música ditou o rumo da minha vida e, por isso, há uma prece em merecer este caminho”.

O trabalho vai ser apresentado ao vivo esta quinta-feira, dia 14, na discoteca Lux, em Lisboa, e, depois, no dia 23, no Hardclub, no Porto. Além de tocar as canções de Lifeboat, Mazgani gosta de recuperar ao vivo temas dos três trabalhos anteriores, casando, assim, toda a sua obra.

alexandra.ho@sol.pt