2. Dissemos que esta entrevista a Passos Coelho foi um furo jornalístico do SOL. De facto, a entrevista publicada na edição da passada sexta-feira do SOL é um facto político histórico: Passos Coelho aproveitou a ocasião para dar uma entrevista para a posteridade. Vale a pena o leitor guardar a última edição do SOL: esta entrevista de Passos Coelho será recordada nos anos vindouros. O que tem esta entrevista de especial? O de constituir a primeira intervenção de Passos Coelho (para além das declarações avulsas sobre pontos concretos publicadas na biografia de Sofia Aureliano) que pretende ser uma ponte do seu primeiro mandato para o seu segundo mandato. O discurso de Passos Coelho foi, simultaneamente, de retrospecção (de balanço do seu trabalho como Primeiro-Ministro) e de prospecção (do que será o seu segundo mandato como Primeiro-Ministro de Portugal, após os portugueses confirmarem – nós acreditamos que o povo português é muito sensato – , levantando o véu sobre quais serão as suas bandeiras como Primeiro-Ministro de um país já sem intervenção financeira externa e, logicamente, as suas bandeiras eleitorais). É um documento histórico.
3. Agora, passemos à entrevista, seu conteúdo e forma. Quanto à forma, Passos Coelho esteve muito bem – abdicou do discurso redondo (que marcou a primeira fase do seu mandato, o que poderá ser explicado com a vontade de mostrar que é, de facto, um Estadista quando havia uma suspeita generalizada de ser apenas mais um jotinha) para adoptar o discurso do Passos Coelho político nato. O Passos Coelho político nato é assertivo, genuíno, claro – ora, na entrevista ao SOL, apareceu o Passos Coelho político nato.
4. No que respeita à substância, Passos Coelho conjugou com mestria o seu lado de Estadista, de responsável político com Sentido de Estado – com o seu lado de político nato. Em primeiro lugar, Passos Coelho arrumou a questão da divergência no interior da coligação sobre a versão correcta da história do “irrevogável” afirmando que o mais importante foi a maturidade e o sentido patriótico de cooperação que Passos Coelho e Paulo Portas encontraram para que Portugal evitasse um segundo resgate financeira (que teria consequências catastróficas na vida dos portugueses). Nós próprios já tínhamos aqui sugerido que Paulo Portas admitisse o erro, elogiasse a forma como quer ele, quer Passos Coelho reagiram – e seguissem o seu caminho a bem de Portugal. Não o fez Paulo Portas – fê-lo Passos Coelho. Em muito boa hora.
5. Em segundo lugar, Passos efectua uma análise muito sensata, ponderada e inteligente das eleições britânicas e do cenário político em Espanha ou na França. Passos chama a atenção para as diferenças político-constitucionais entre os diversos países que explicam, em certa medida, os resultados eleitorais e que a decisão sobre qual será o próximo Governo pertence exclusivamente ao povo português. Contudo, neste ponto, deparamo-nos com um milagre: finalmente acontece aquilo que julgávamos impossível. Ocorre um verdadeiro milagre de Nossa Senhora de Fátima (na semana em que celebrámos o 13 de Maio em Fátima): Pacheco Pereira e Passos Coelho estão de acordo. Pacheco Pereira, na Quadratura do Círculo de quinta-feira, parafraseou Pedro Passos Coelho: os resultados eleitorais demonstram a crise do socialismo democrático. Os partidos socialistas estão em decadência política acentuada, porque se revelaram incompetentes no exercício de funções governativas – e desastrados na oposição. António Costa é um exemplo perfeito da decadência dos partidos socialistas. Até Pacheco Pereira já é um quase apoiante de Passos Coelho.
6. Em terceiro lugar, Passos Coelho asseverou – sem rodeios, nem dúvidas metafísicas – que o PSD não fará governo com o PS de António Costa. É uma magnífica notícia para Portugal: seria muito grave (mesmo muito grave!) que o partido de centro-direita se coligasse com o partido que tem um projecto que não serve os interesses de Portugal. António Costa é o rosto de uma política que levou Portugal à pré-bancarrota. Se o PSD se coligasse (sequer pensasse fazê-lo) com o discípulo político de José Sócrates, poderia começar a escrever o seu fim político e a sua relevância no sistema político-partidário português. Desenvolveremos esta temática de enorme relevância em próximo texto aqui no SOL, mas avancemos, desde já, este nosso posicionamento: fomos, somos e seremos contra o Bloco Central – sobretudo um Bloco Central com uma personagem política chamada António Costa.
7. Esta nossa prosa de hoje já vai longa. Acrescentamos apenas que há uma ideia que perpassa em toda a entrevista e em todo o discurso de Passos Coelho: a ideia de esperança. Esperança num futuro melhor. Esperança na construção de um Portugal em que o que conta não é a origem familiar, a situação económica de que se parte ou o cartão de militante partidário – o que conta é o mérito. A capacidade e a determinação de cada pessoa se superar a si mesma, às suas circunstâncias – através do trabalho, do estudo árduo, do seu papel na sociedade.
8. Daí que nós advogamos que o nome da coligação pré-eleitoral entre o PSD e o CDS/PP para as legislativas do corrente ano deveria ser o de Esperança Portugal . Ao contrário do que defendeu Marques Mendes (este terá tido uma conversa com Marcelo Rebelo de Sousa em que propôs Acção Democrática – e Marcelo Rebelo de Sousa contrapôs a designação Nova Esperança) julgamos que não deve ser AD – AD é uma designação histórica de que muito nos orgulhamos, mas já passou. Se o discurso de Passos Coelho é o de mudança, de nova ordem – não se poderá socorrer de uma fórmula e de uma designação passadas. Nas últimas europeias, PSD e CDS apresentaram-se como AP – Aliança Portugal. Hoje, é tempo de EP – Esperança Portugal. Tomando em conta que Passos Coelho é eleitoralmente muito mais forte do que Paulo Rangel e os portugueses reconhecem a coragem e o trabalho hercúleo do Primeiro-Ministro – estamos muito confiantes que neste ano de 2015 uma nova esperança para todos nós e para as gerações futuras se começará a construir. Haja Esperança Portugal!