O presidente seria corrupto, para não destoar muito do que estamos habituados aqui na Primeira Liga. Um ex-presidiário que tinha subido a pulso na carreira do mitrismo. Aos 4 já roubava Bollycaos na escola primária e aos 16 já vendia coca, mas também na escola primária. Depois, foi por aí fora. Um carjacking ali, uma bomba de gasolina pilhada acolá, uma extorsão mais à frente. Uma carreira de sucesso até ser preso. Saía da prisão e fundava o clube.
O director de comunicação era aquele mitra que sempre foi o porta-voz do gang. Não era o mais forte, não era o chefe, mas era aquele diplomata que mediava os assaltos aos putos e fingia que até era bonzinho. Era ele que não deixava os amigos partir para a violência, era ele que deixava os putos ficarem com o cartão do telemóvel. Agora era director de comunicação do grupo e esforçava-se quando escrevia comunicados de imprensa, sempre que havia problemas: “Caros filhos de uma ganda p***, Serve esta merda de teisto para vos esplicar que a gente quer é que voçês sa fo*** todos.”. Era muito por aqui.
Jogadores. Há muito mitra a jogar bem à bola, teriam uma boa equipa. Muita chuteira cor-de-rosa, tatuagens com a cara dos filhos e o nome dos pais, o clássico terço de plástico e a pochete da Louis Vuitton – não importa estar ridículo, importa mostrar que se tem dinheiro. Este é aquele mitra que jogava no Camarate e saía à noite no Parque das Nações, ali para o Tartaruga ou para o Cenoura. Depois foi jogar para o Estrela da Amadora e passou a sair nas Docas, até que chegaria ao Mitras Futebol Clube e agora estaria batido nas festas do Swag On. Sempre a subir.
Sim, jogariam bem, mas seria a única equipa do mundo onde seriam os árbitros a queixar-se de roubo dos jogadores e não o contrário.
Os adeptos seriam, obviamente, todos os restantes mitras do país. Uniforme oficial para qualquer ocasião da vida, incluindo casamento: fato de treino do clube, ténis Air Max e aquele cap da Lacoste que não desilude. O brinco de diamante seria facultativo mas apreciado, e vocábulos como “népia”, “cubico”, “bote (como sinónimo de carro)” seriam essenciais no dia-a-dia, assim como o uso da expressão de espanto “Xé… F***-se! Esse gajo tásse mêmo a passar!”, quando o árbitro expulsasse algum jogador só por dar um pontapé na cabeça de um adversário. Para as mitras as regras eram as mesmas e mais uma: se aos 15 ainda não tivessem 2 filhos, pagavam o dobro das quotas.
Claro que o hino do clube seria uma kizomba e a segurança dos jogos era feita só por polícias que agridem adeptos à frente dos filhos pequenos e espetam socos em velhos. No fundo, um mitra com uma farda diferente.
E ainda deixo uma sugestão à Câmara Municipal de Lisboa, tal como já fiz via Facebook. Era óptimo que se construísse um novo Marquês de Pombal para os festejos dos mitras. A estátua podia ser uma representação do Regula e não seria numa rotunda, mas sim numa pista de drifts para o pessoal do tunning também andar lá a curtir. Desta forma, andavam lá à garrafada e à pedrada só uns com os outros, festejavam com tiros para o ar e não chateavam mais ninguém.
Todos os outros clubes ficariam muito mais descansados e as famílias podiam ir tranquilas aos estádios, aos festejos e às tascas ver os jogos. O desporto seria muito mais aquilo que deve ser.
Olhem que está aqui uma ideia vencedora. E até a dou de borla.
De nada.