Montijo pressiona aeroporto low cost

A Câmara Municipal do Montijo quer uma clarificação da ANA – Aeroportos de Portugal sobre o projecto de uma estrutura para as companhias aéreas low cost a construir na base aérea do concelho. O presidente da autarquia, Nuno Canta, solicitou na semana passada uma reunião ao CEO da empresa, Jorge Ponce de Leão, para clarificar…

“Queremos saber em que ponto está o projecto de construção da nova estrutura aeroportuária na base do Montijo”, explicou Nuno Canta ao SOL, recordando que, em Setembro do ano passado, os franceses da Vinci, que adquiriram a ANA, estiveram reunidos com os representantes da Câmara Municipal do Montijo tendo então dado sinais claros “do seu interesse em usar a base aérea n.º 6” para voos comerciais.

O pedido de clarificação à ANA surge na sequência do rápido e inesperado crescimento do tráfego na Portela, que se manteve este ano. Segundo anunciaram no mês passado responsáveis da empresa, o aeroporto da capital apresentou resultados muito superiores aos esperados para 2014: cresceu 13,3%, superando a barreira dos 18 milhões de passageiros.

O contrato de concessão entre a empresa francesa e o Estado português, assinado em Dezembro de 2012, estipula que a empresa é obrigada a iniciar conversações com o Governo para decidir uma solução a adoptar para aumentar a capacidade aeroportuária na região de Lisboa, caso o tráfego atinja 22 milhões de passageiros.

As estimativas iniciais indicavam que esse valor só seria atingido em 2025, mas estavam erradas. “Tudo indica que será em 2017”, diz fonte do sector, recordando que essa situação pode obrigar a ANA a ter de avançar para um aeroporto suplementar mais cedo do que previsto.

Franceses visitaram a base

Neste momento, sabe o SOL, a Vinci está ainda a realizar estudos técnicos sobre a Base Aérea n.º 6. Há cerca de um mês, alguns peritos nomeados pela ANA estiveram na base militar a analisar a torre de controlo, para estudar as questões de gestão de tráfego aéreo. 

A visita foi acompanhada pelo comandante da Força Aérea responsável pela base, que teve ordens do Ministério das Finanças para disponibilizar todo o tipo de informação necessária. Já antes os especialistas da ANA tinham feito visitas ao local para avaliar o solo e as pistas.

Em cima da mesa estará a ideia de a infra-estrutura ocupar apenas metade dos 900 hectares totais da base. E, das duas pistas ali existentes, a Norte-Sul será a mais adequada. Tem o problema de ter a mesma orientação da pista da Portela, o que poderia dificultar o tráfego, mas, segundo fontes ligadas ao processo, a distância de 13 quilómetros entre elas é suficiente para garantir a segurança das operações.

Terá também de ser resolvida a questão ambiental. Poderá ser necessário solicitar à União Europeia uma licença especial para serem feitos voos comerciais no estuário do Tejo.

Câmara coloca quatro exigências

Além de questionar a ANA sobre os avanços do projecto, o presidente da Câmara Municipal do Montijo pretende apresentar o seu caderno de reivindicações – ou seja, as obras e intervenções que a autarquia considera essenciais, a cargo do investidor. As principais são quatro: a construção de uma rede de águas e de tratamento de esgotos, a conclusão da circular externa (quatro quilómetros) da cidade, um novo acesso à ponte Vasco da Gama e a transformação da estrada do Seixalinho em avenida.

Estas exigências já foram transmitidas oralmente aos responsáveis da ANA durante a primeira reunião, mas agora o objectivo é entregar um dossiê com toda esta informação, adiantou ao SOL Nuno Canta.

A autarquia ainda não realizou um estudo sobre o impacto económico que o novo aeroporto do Montijo pode trazer à zona. “Mas será uma nova ponte Vasco da Gama”, diz, estimando que traga um grande impulso económico.

Alcochete não morreu

Além disso, tal como os restantes autarcas da zona, também Nuno Canta lembra ser “urgentíssimo” redistribuir o turismo da Grande Lisboa, de forma a que não apenas o Norte mas também o Sul beneficie da vinda de estrangeiros para a região.

Lisboa é, aliás, a cidade europeia com maior crescimento de dormidas na Europa (aumentou 15,3% em 2014, segundo  dados divulgados em Fevereiro pela Associação de Turismo de Lisboa).

Apesar do crescimento de turistas e de tráfego na Portela, a ANA não deverá, contudo, dar qualquer sinal do que pretende fazer antes das legislativas, defende outra fonte. “Tendo em conta que vai haver eleições, a própria empresa pode não ter interesse em dar sinais das suas intenções até o novo Governo tomar posse”, refere, acrescentando que a solução a adoptar para aumentar a capacidade aérea em Lisboa pode mudar consoante o partido (ou partidos) do próximo Executivo. “Há muitas pessoas que ainda acreditam no aeroporto em Alcochete”, frisa.

Aliás, o próprio líder da autarquia do Montijo admite que, na revisão do Plano Director Municipal (PDM), estão reservados espaços para uma possível nova infra-estrutura aeroportuária, que ocuparia o Campo de Tiro de Alcochete e a Base Aérea. “Acredito que no futuro Alcochete ainda será construído”, revela Nuno Canta, explicando que, por isso, foram dadas ordens à equipa técnica que está a coordenador a revisão do PDM para reservar o espaço que tinha sido escolhido para construir a infra-estrutura que iria substituir a Portela. 

Toda a questão do novo aeroporto está também dependente da privatização da TAP e dos objectivos do consórcio vencedor – embora seja certo que qualquer oferta de compra pressupõe que Lisboa se mantenha como sede e hub (centro estratégico).

catarina.guerreiro@sol.pt