Mas o mais importante de tudo é a afirmação de que o princípio fundador da sua intervenção política é a rejeição da austeridade. Ora, isto é, a vários títulos, extraordinariamente incongruente. Em primeiro lugar temos a questão formal pois implicaria, antidemocraticamente e inconstitucionalmente, rejeitar dar posse a um Governo eleito com base, por exemplo, numa plataforma de controlo da despesa pública.
Mas a questão substantiva é bem mais importante. Ninguém é a favor da austeridade em si mesma, nem ela é o valor fundador de qualquer movimento de intervenção política. A 'austeridade' (aspas pois o termo é em si mesmo indefinido) não é um fim para ninguém; é quanto muito um meio para tratar uma doença. Rejeitá-la por princípio é como rejeitar a cirurgia como princípio terapêutico.
2. Entrevista II. Há muito que suspeitava que o relatório Uma Década para Portugal não representava o PS profundo. Uma piscadela de olho ao centro que não terá surtido o efeito desejado e deixou a esquerda socialista muito inquieta. Aí surge António Costa, em grande estilo, numa entrevista à TVI prometendo mundos e fundos: reposição dos feriados, semana de 35 horas, reposição de salários, redução do IRS para a classe média e recusa da privatização da TAP. Como se sentirão os excelentes e razoáveis economistas que colaboram no relatório?