2. Feita esta nota prévia, passemos a analisar o facto político-futebolístico da semana: a carta aberta de Rui Gomes da Silva a Lopetegui – a qual foi, logo no dia seguinte, ripostada pela estrutura do Futebol Clube do Porto. Começamos por dizer (ponto muito importante) que, quanto a Rui Gomes da Silva, importa distinguir: temos o Rui Gomes da Silva, Vice-Presidente do Benfica, representante institucional do clube; e, temos o Rui Gomes da Silva, comentador do “Dia Seguinte. Na primeira faceta, Rui Gomes da Silva actua em nome do Benfica, sendo as suas opiniões e os seus actos passíveis de imputação à pessoa colectiva Sport Lisboa e Benfica; na segunda faceta, as opiniões e actuações são imputáveis apenas e só ao próprio Rui Gomes da Silva, não responsabilizando naturalmente o Benfica. Assim como Guilherme Aguiar – amigo íntimo de Pinto da Costa e Vice-Presidente honorário do Futebol Clube do Porto – quando fala, fala em nome próprio e não em representação do clube (pelo menos, no programa televisivo). Ou António Oliveira – presidenciável do Futebol Clube do Porto e que (consta) já tenta reunir apoios para substituir Pinto da Costa – não vincula o clube, mas sim apenas o próprio António Oliveira.
3. Portanto, a carta aberta de Rui Gomes da Silva é da exclusiva responsabilidade de Rui Gomes da Silva. E é uma carta violenta ou não tolerante? Não: é uma carta dura, contundente, assertiva, mas não incita à violência ou põe em causa a dignidade do treinador do Futebol Clube do Porto (genuinamente, não tenho a certeza se o nome do treinador do Porto é Lotopegui ou Lopegueti, por isso vou-me referir apenas ao senhor como treinador do Porto). O que não deixa de causar estranheza é a hipocrisia que a carta de Rui Gomes da Silva gerou: vieram os defensores dos bons costumes criticá-la porque é preciso saber ganhar e não ofender os treinadores derrotados. Ora, criticar um treinador é ofendê-lo? Não se pode criticar o treinador do Porto por ter sido incompetente no seu trabalho (que é escolher os jogadores e as tácticas) – mas já se pode brincar com o português e o dito “provincianismo” de Jorge Jesus? Por amor de Deus! A hipocrisia tem limites!
4. Na verdade, quem ofendeu, quem faltou ao respeito foi o treinador do Futebol Clube do Porto. Porquê? Porque numa conferência de imprensa de lançamento de um jogo decidiu colocar em causa a idoneidade de Rui Gomes da Silva para ser Ministro de Portugal. No fundo, o treinador do Futebol Clube do Porto chamou implicitamente “tonto” ou “imbecil” a Rui Gomes da Silva. Sendo que o dito treinador não é cidadão português, logo respeitar a soberania do povo português, imiscuindo-se de comentários políticos sobre a seriedade ou não dos políticos portugueses; segundo, o treinador do Futebol Clube do Porto quando Gomes da Silva foi Ministro, ainda deveria ser suplente de uma equipa qualquer.
5. E atenção: os comentadores (já muitos os que comentaram a carta e resposta) não perceberam que Rui Gomes da Silva, na verdade, não critica o treinador do Porto – critica a estrutura do Futebol Clube do Porto, utilizando o seu treinador. A lógica de Rui Gomes da Silva é: ”Como foi o treinador que me criticou, a mando da estrutura – eu vou criticar a estrutura, mas por interposição do treinador”. E fez muito bem – em democracia (a democracia também vale para o futebol português) todos são sujeitos a escrutínio, inclusive a estrutura do Futebol Clube do Porto.
6. E a resposta da estrutura, correu bem? Do ponto de vista de Rui Gomes da Silva, não poderia ter corrido melhor; do ponto de vista do Futebol Clube do Porto, foi péssima. Pior era impossível. Vejamos porquê.
7. Primeiro: é um princípio básico do marketing político e da lógica das relações de poder que uma estrutura não pode responder a um comentador. Se fosse o Benfica a emitir o comunicado, o Futebol Clube do Porto poderia ter respondido nos termos em que o fez – agora, responder a um comentador? Incompreensível. É um erro infantil, que só tem um efeito: valorizar Rui Gomes da Silva, colocando-o ao nível hierárquico (apenas hierárquico!) do Presidente do Porto. E banaliza completamente a instituição Futebol Clube do Porto!
8. Segundo lugar: o conteúdo da resposta da estrutura do Porto (diz-se que o comunicado teve inspiração de Adelino Caldeira, Antero Henriques e do próprio Guilherme Aguiar: desconhecemos se tal é verdade) é muito infeliz. Por exemplo: um comunicado de uma estrutura, de um clube como o Porto não pode recorrer a expressões como “o Benfica pode agora soltar a franga”. Soltar a franga? Mas o que é isto? Uma estrutura com o peso do Porto, praticando um acto de comunicação institucional recorre à expressão “soltar a franga”? Inadmissível! Está ao nível dos meninos mal comportados do liceu. E depois admiram-se que os alunos não saibam comunicar. Claro – com exemplos destes… Soltar a franga? A sério? Se era para fazer, deveriam ter feito uma coisa mais bem feita…
9. Em suma: Rui Gomes Silva, sozinho, goleou a estrutura, que era tida como exemplar, do Futebol Clube do Porto. E marcou pontos para uma possível – ainda em tempo indeterminado – candidatura à presidência do Benfica. Neste momento, para além de Luís Filipe Vieira, Rui Gomes da Silva e Rui Costa (que poderá ir para Itália) são os nomes mais populares entre adeptos e simpatizantes e sócios do Glorioso. E que tal um ticket (para o futuro) Rui Gomes da Silva e Rui Costa?
10. O que é relevante após este enredo todo? Que o Benfica é campeão. Que o Benfica continua – e sempre será – o maior clube de futebol de língua portuguesa. O Sporting é uma região; o Porto é uma Nação; o Benfica é um Império.
P.S – Uns simpatizantes comunistas insultaram-me (mais uma vez) por utilizar a expressão “império”. Então mas são os comunistas e a esquerda caviar do Bloco de Esquerda que se refere constantemente aos Estados Unidos da América como um país “imperialista”, o “ império” diabólico? Não têm autoridade moral para criticar. Já agora: já reparou o caro leitor que o Benfica e os Estados Unidos da América partilham o mesmo moto – “ E pluribus unum”? Tal só demonstra a grandeza do Benfica – e dos Estados Unidos da América. Tal só nos faz ser ainda mais benfiquistas – e ainda mais admiradores dos Estados Unidos.