Ora, eles passam ali dolorosas e entediantes horas na fila da praça de táxis do aeroporto porque, como é sabido, não há mais praças na cidade. Nem praças, nem clientes, aliás. É de senso comum que só no aeroporto é que as pessoas apanham táxis. Nós até podíamos pensar que eles ficam ali tanto tempo na esperança de apanhar um cliente que queira ir de táxi para a África do Sul, mas estaríamos a ser injustos. É mesmo só por falta de alternativas, claro. Logo, o seu esforço tem de ser recompensado.
Imaginem que eram vocês! Estão ali há horas, já sabem de cor as descrições dos classificados do Correio da Manhã – morena marota, boca doce, por trás não é pecado, buffet três pratos – já não têm mais insultos para dirigir ao Uber, nem elogios ao Jorge Jesus, a vossa vez aproxima-se, são já o próximo, entra o cliente e… “é para o Campo Pequeno, se faz favor”. Olha, mas que merda! Tanto sofrimento para ganhar 7€?! Estiveram ali horas, quando podiam ter andado pela cidade a fazer muito mais que um serviço, com aquela fé de quem ia levar alguém de táxi até Moscovo, que ficavam à espera que o cliente fosse só buscar um casaco e voltasse de táxi para Lisboa, e agora aquele porco preguiçoso só quer ir para o Campo Pequeno?! Nem pensar, meu amigo. Paga 20€ e não chora.
Vejamos por outro lado. Procuramos com afinco aquele voo a 60€ para Paris num avião que vai a tremer por todos os lados e mal temos lugar para as pernas. Ficamos na casa de um amigo ou até um amigo de um amigo, para não pagar alojamento. Fazemos várias refeições no McDonalds ou mesmo num supermercado, só vamos aos museus com entrada livre e fingimos que não percebemos francês para não termos que dar moedinhas aos pedintes franceses. Com tanto malabarismo só porque queremos mesmo ir viajar com pouco dinheiro, de certeza que não nos custa largar 20€ à chegada, não é verdade?
Além disso, segundo os próprios taxistas, o serviço vai melhorar substancialmente. Vai deixar de haver taxistas que dizem “os pretos deviam era ir todos para a terra deles”? Não. A percentagem de taxistas bem-educados vai passar a ser muito maior que a de mal-educados, ao contrário do que é agora? Não. Vão passar factura de boa vontade? Também não. Mas calma, porque… calma, a sério que vale a pena… (mais um pouco de suspense porque vale mesmo a pena…) porque… vão passar a ter ar condicionado e a estar fardados! BRAVO! Finalmente. Isto sim é serviço e vale os 20€ mínimos. Estou farto de ter que abrir a janela do táxi sempre que estão 50 graus aqui em Abu Dhabi. Ai, em Lisboa, digo. E as fardas? Que mimo. É que quando eu vejo um taxista com uma camisa feia penso logo “Ui, pronto… Pela camisa, é óbvio que não sabe conduzir e vamos atropelar uma velha e vou chegar atrasado”. As fardas dão-me outro descanso. Só espero que possamos escolher a farda deles cada vez que entramos num táxi. Adorava ser levado ao Saldanha pelo Songoku ou o Obama.
Fica o conselho: apanhem o táxi nas “partidas” e não nas “chegadas”, porque lá o preço vai manter-se igual. Não digam é a ninguém.
De nada.