Draghi diz que parte das perdas com a crise poderão tornar-se permanentes

O presidente do BCE, Mario Draghi, alertou hoje que face às atuais previsões que colocam o potencial de crescimento na zona euro abaixo de 1%, parte das perdas resultantes da atual crise se poderão tornar permanentes e o desemprego elevado.

"O crescimento potencial está hoje estimado em menos de 1% na zona euro e deverá manter-se bem abaixo das taxas de crescimento anteriores à crise. Isto significaria que uma parte significativa das perdas económicas resultantes da crise se tornaria permanente, com o desemprego estrutural a ficar acima de 10% e o desemprego jovem elevado", disse o líder do Banco Central Europeu (BCE) durante a intervenção de abertura do segundo dia do Fórum do BCE que, pelo segundo ano, junta em Sintra algumas das mais influentes personalidades do mundo da política monetária para debater o desemprego e a baixa inflação na Europa.

Numa intervenção marcada pela necessidade da realização de reformas estruturais de forma coordenada para tornar as economias mais resilientes a choques, pelo efeito que estas podem ter no crescimento económico e pela importância que têm também para a política monetária do BCE, Mario Draghi sublinhou, no entanto, que o fraco desempenho registado pela zona euro também poderá constituir uma oportunidade.

"É por isso que o BCE tem frequentemente chamado à atenção para uma melhor governação conjunta em termos de reformas estruturais" que deveriam fazer parte no nosso "ADN comum" em termos de resiliência, salientou Mario Draghi, sublinhando que as reformas estruturais são igualmente importantes em termos de crescimento potencial e pelo efeito que este baixo crescimento pode ter na política monetária.

Um "baixo crescimento potencial pode ter um impacto direto sobre as ferramentas disponíveis para a política monetária", uma vez que aumenta a probabilidade do BCE "ter de utilizar de forma recorrente políticas não convencionais para cumprir o seu mandato".

Para Draghi, o fraco desempenho da zona euro pode, contudo, ser visto como uma oportunidade.

"Os custos de curto prazo e os benefícios de reformas dependem da forma crítica de como elas são implementadas. Se as reformas estruturais são credíveis, os seus efeitos positivos podem ser sentidos rapidamente (…) O mesmo é válido se o tipo de reformas for cuidadosamente escolhido". 

Neste cenário e com a política de apoio à economia que tem sido seguida pelo BCE, Mário Draghi acredita que "os benefícios das reformas se concretizem mais rápido", criando condições para "terem sucesso". 

"É a combinação dessas políticas que vai permitir uma estabilidade duradoura e prosperidade", sublinhou o líder do BCE.

Mário Draghi salientou ainda que a insistência do BCE em relação às reformas estruturais não é um sinal de que as mesmas não estejam a ser feitas, deixando um elogio a Portugal.

O foco na necessidade de reformas estruturais "não é porque eles foram ignorados nos últimos anos".

"Pelo contrário (…) e temos elogiado o progresso onde [estas reformas] tiveram lugar, incluindo em Portugal", sublinhou para concluir: "Se falamos muitas vezes sobre as reformas estruturais, é porque sabemos que a nossa capacidade" para um retorno duradouro de estabilidade e prosperidade "não conta apenas com políticas cíclicas – incluindo a política monetária -, mas também com as políticas estruturais. Os dois são fortemente interdependentes".

Lusa/SOL