Cerrar o Panos

Por um lado, o desafio à criação de nova dramaturgia. Por outro, o teatro feito em escolas e com jovens. E entre estes dois mundos um enorme vazio que só é preenchido pelo Panos, o festival da Culturgest que chega a Lisboa este fim-de-semana com mais três textos e seis encenações.

“São dois mundos que não se tocam em Portugal e que nem em separado têm uma grande tradição. Queremos ligá-los e fortalecer ambos”, explica Francisco Frazão, programador de teatro da Culturgest.

Ao longo de dez anos de projecto, há 30 textos feitos de raiz por autores como Gonçalo M. Tavares, Jacinto Lucas Pires, Rui Cardoso Martins, entre muitos outros, que estão publicados e acessíveis a quem os queira encenar. “São como uma garrafa atirada ao mar”.

Na edição que culmina este fim-de-semana – começa um ano antes, com encomendas de textos e com o trabalho e selecção dos grupos pelo país fora -, os textos são de Tim Etchells, Miguel Castro Caldas e Pablo Fidalgo Lareo e chegam grupos de Tondela, Torres Novas ou Portimão. Depois, perante o número redondo, o Panos ficará parado durante um ano. “Trata-se de interromper num bom momento, com três bons textos e bons espectáculos. Precisamos de parar para pensar. O projecto funciona bem para os envolvidos mas não tem a presença no panorama teatral que devia ter”. 

O programador garante que há grandes descobertas a fazer, que a qualidade não é inferior à de uma programação profissional e que os actores adolescentes “têm uma voltagem com descarga extra”, mas o Panos tem sido arrumado na gaveta dos amadores. “Para mim, o trabalho com actores não profissionais é uma das zonas mais férteis da criação contemporânea”. A confirmar neste fim-de-semana, mesmo que a interrupção seja apenas para “voltar com mais força”.