Espanha: Revolução em Barcelona e talvez em Madrid

Contabilizada a quase totalidade dos votos, confirma-se um terramoto político para o Partido Popular de Mariano Rajoy nas eleições autonómicas e municipais de domingo. Apesar de terem sido a força mais votada a nível nacional, os conservadores perdem autarquias e regiões chave.

Na frente municipal, e para já, é certa a mudança em Barcelona, destronada a CiU (Convergência e União). A activista anti-despejos Ada Colau, da plataforma de esquerda Barcelona en Comú (Iniciativa, Esquerra Unida, Podem, Procés Constituent e Equo), conquista a autarquia catalã. Vence, mas com apenas 11 mandatos, dez menos que os necessários para a maioria, e está por isso obrigada a vários acordos para manter o executivo. Os socialistas, os populares e os independentistas catalães foram fortemente penalizados. O Ciudadanos, jovem formação centrista, alcançou o terceiro lugar.

Na autarquia de Madrid, um bastião dos conservadores, o PP da condessa Esperanza Aguirre perdeu a maioria. Está agora vulnerável ao Ahora Madrid da ex-comunista Manuela Carmena, uma magistrada reformada apoiada pelo Podemos. Depois de 24 anos de maiorias absolutas, o PP madrileno soma agora 21 mandatos, apenas um mais que o Ahora Madrid, a segunda força mais votada.

Os esquerdistas, herdeiros do movimento dos Indignados, poderão liderar a autarquia da capital se conseguirem lograr um acordo com o PSOE, que com 15% dos votos obteve 9 mandatos. Ao longo da campanha, recorda o El País, o candidato socialista Antonio Miguel Carmona disse que apoiaria a candidatura “progressista” mais votada. Contará com a anuência do líder nacional Pedro Sánchez, mas tal não significa que a questão seja pacífica no seio do partido.

Independentemente da atribuição da liderança da autarquia, o mapa eleitoral de Madrid mudou definitivamente. Se há quatro anos o PP tinha conquistado todos os distritos da cidade à excepção de Vallecas (feudo do PSOE), está agora geograficamente em minoria. Domina 10, contra 11 ganhos pelo Ahora Madrid. Há agora uma clara divisão norte/sul da metrópole: a metade setentrional mantém-se conservadora, a meridional virou à esquerda.

PSOE avança nas autonómicas

O naufrágio do PP, muito castigado pelos escândalos de corrupção, teve também expressão ao nível das autonomias. Os populares perderam as Astúrias e a Extremadura para o PSOE e as Canárias para os nacionalistas da Coligação Canária, e mantêm a maioria apenas em Ceuta – em 2011 tinham-na em 9 regiões. Na Comunidade Valenciana, nas Baleares e em Castela-La Mancha, o PP foi o partido mais votado mas não terá mandatos suficientes para evitar que a oposição coligada forme governo.

O Podemos entra em todos os 13 parlamentos regionais a que concorreu (ficou de fora da corrida a Ceuta e a Melilla) e o Ciudadanos falhou a entrada apenas em Castela-La Mancha, Canárias e Navarra.

Este 'abanão' eleitoral acontece a poucos meses das legislativas. Contabilizados os totais nacionais de domingo, o PP mantém-se o maior partido espanhol mas está em queda acentuda. O PSOE sobe em relação às europeias de 2014 e continua a ser a segunda força nacional. O Ciudadanos seria neste momento o terceiro partido. Os resultados do Podemos, que integrou inúmeras coligações por todo o país, não permitem uma leitura nacional rigorosa – apesar dos triunfos dos seus aliados em Barcelona e possivelmente em Madrid.