Não vou dizer já o que lhe respondi.
Há uns oito meses, um colega meu do SOL dizia-me ser “uma impossibilidade” a coligação no Governo vencer as legislativas.
Umas semanas depois, conversando com o director de um jornal diário, eu dizia-lhe que para mim não era certo que o futuro Governo fosse do PS.
O homem deu um salto na cadeira e desafiou-me: “Escreva isso! Deve ser a única pessoa no país a pensar uma coisa dessas”.
Era este o ambiente há uns meses, após António Costa ter conquistado a liderança do Partido Socialista.
Mas desde aí muita água correu sob as pontes, a saber:
1. Confirmou-se sem margem para dúvidas que o país voltou a crescer, e a um ritmo superior à média da Zona Euro;
2. António Costa não mostrou ser tão bom como se pensava;
3. Os dirigentes do Syriza revelaram-se uns fanfarrões;
4. Os conservadores marcaram pontos na Europa, como sucedeu no Reino Unido, enquanto os socialistas deram sinais de fraqueza.
Comecemos pelo crescimento.
A oposição alega que não é tão bom como se chegou a pensar.
Eu recordo que nos 10 anos anteriores a este Governo, quando ainda não se falava em crise e o investimento público atingia enormes proporções, Portugal cresceu em média 0,5% ao ano.
Então 1,4%, quase três vezes mais, é pouco?
Só por desonestidade se pode dizê-lo, ainda por cima depois de um período em que tivemos de fazer um esforço brutal para equilibrar as contas públicas e reduzir o défice externo.
Vamos agora a António Costa. Há uma frase que diz: “Não há uma segunda oportunidade para causar uma primeira boa impressão”.
E Costa já perdeu essa oportunidade.
Os seus primeiros oito meses na liderança do PS foram decepcionantes.
E as sondagens dão conta disso mesmo: umas colocam o PS igual à coligação, outras menos de 5 pontos acima.
Ora, no tempo de António José Seguro a diferença era bastante maior – e mesmo assim sabe-se o que aconteceu nas europeias.
As pessoas têm algum constrangimento em admitir que vão votar no Governo, mas na hora da verdade, no recato da cabina de voto, por receio da mudança, acabam por fazê-lo.
Foi isto o que se passou também no Reino Unido.
Acresce que nenhum primeiro-ministro que se recandidatou ao cargo em Portugal, depois de cumprir o mandato completo, deixou de ganhar as eleições.
Cavaco Silva foi reeleito duas vezes (e à terceira não se recandidatou); António Guterres foi reeleito para um segundo mandato (e depois foi-se embora a meio); José Sócrates também foi reeleito, apesar dos escândalos que envolveram o seu nome.
Portanto, tal como os Presidentes da República, os primeiros-ministros que finalizam os mandatos são reeleitos.
Passando à Grécia, aquilo que em tempos designei por 'vacina grega' já está a fazer efeito.
As pessoas estão a chegar à conclusão de que os dirigentes do Syriza eram, de facto, uns fanfarrões: diziam que iam fazer isto e aquilo, que iam pôr a Europa em sentido, que iam acabar com a austeridade – e agora andam de mão estendida a pedir dinheiro à Europa para não entrarem em incumprimento.
Tudo aquilo que as pessoas de bom senso diziam que ia acontecer – indisponibilidade dos parceiros europeus para cederem à chantagem grega, fuga de depósitos dos bancos, queda abrupta do investimento, subida em flecha dos juros da dívida, etc. – se verificou.
Ficou à vista de todos que não há alternativa às políticas seguidas na Europa, que no essencial visam os equilíbrios orçamentais em cada Estado para não terem de andar uns a financiar os outros.
E para se atingir o equilíbrio orçamental são necessárias políticas de austeridade.
Finalmente, depois da euforia provocada pela ascensão dos populismos, as pessoas começam a cair em si.
E começam também, finalmente, a desconfiar das promessas.
Creio que António Costa fez muito mal em enveredar por este caminho.
Ao prometer baixar o IRS através de uma alteração dos escalões, ao prometer repor as 35 horas semanais, ao prometer repor os feriados, ao prometer baixar o IVA da restauração, etc., etc., António Costa não ganhou votos – perdeu votos.
Em primeiro lugar, porque os eleitores já não acreditam que as promessas venham a concretizar-se.
Em segundo lugar, porque receiam que a reposição daquilo que existia antes da vinda da troika traga consigo um regresso ao passado, com todos os problemas que isso acarretará.
Aqueles que odiaram a troika e foram prejudicados pelas medidas tomadas nos últimos quatro anos não querem voltar a passar pela mesma situação.
Funcionários públicos, reformados e pensionistas estarão muito zangados com o Governo – mas isso é passado.
Olhando para o futuro, pensarão: “Pior do que aquilo que sofremos, é termos de passar outra vez pelo mesmo”.
Por isso, na hora do voto, muitos terão medo da mudança.
Terão medo de um regresso do PS ao poder e do fantasma de uma nova bancarrota e uma nova troika.
Por tudo isto, penso que a coligação PSD-CDS vencerá as próximas eleições, e até possivelmente com alguma folga.