Que balanço faz de quatro anos em Washington?
O essencial era restabelecer um laço forte entre a UE e os EUA, que tinha sido afectado pela mudança de Presidente em Washington, por todo o debate que houve à volta da guerra do Iraque e pelo maior foco dos EUA em relação à Ásia. E estamos agora a avançar no Acordo de Parceria Transatlântica de Comércio e Investimento (TTIP), talvez o principal resultado da minha estadia, que ilustra a importância da relação.
Foi anunciado que o TTIP seria finalizado em 2014. O que falhou?
É preciso ter objectivos ambiciosos para manter o ritmo e a atenção. Não foi possível concluir em 2014 mas continua na ordem do dia e a ser urgente e necessário. Há um consenso ao nível dos governos europeus muito claro a favor do TTIP e o Presidente Obama está claramente empenhado.
Onde há mais barreiras?
São barreiras diferentes. Nos EUA estão a discutir em simultâneo dois acordos comerciais importantes. Com uma série de países do Pacífico, com excepção da China, e outro com a Europa. O acordo com o Pacífico está mais adiantado e é mais fácil de alcançar. Esperemos que nos próximos meses isso possa acontecer. O debate na Europa tem avançado mais depressa.
Por cá acusa-se o acordo de não beneficiar a economia.
Respeito os que contestam mas estou em total desacordo. O TTIP é a maneira mais fácil de promover o crescimento económico, sem consequências para o défice orçamental e para a dívida pública de europeus e norte-americanos. As duas maiores economias do mundo – UE e EUA representam quase 50% do PIB mundial – terão uma capacidade condizente para influenciar a forma como a economia global vai ser organizada. Penso que será muito bom para Portugal, obviamente terá custos em alguns sectores, nem todos irão beneficiar do TTIP, mas globalmente será uma lufada de ar fresco.
Sente que a Europa voltou a ser um parceiro privilegiado dos EUA?
Acho que a evolução foi positiva. Há uma maior consciência da interdependência entre a Europa e os EUA e do potencial da nossa aliança para resolver problemas de um lado e de outro e para reforçar a nossa capacidade de influenciar a evolução do mundo. O TTIP é a cereja no topo do bolo, construindo uma narrativa que diz que os europeus são os melhores aliados dos EUA e vice-versa.
A aproximação não foi prejudicada pelo caso da Ucrânia, por exemplo?
Há um alinhamento considerável das nossas posições. Nós rejeitámos a anexação da Crimeia, adoptámos sanções económicas contra a Rússia.
Mas nos EUA pedia-se mais…
As diferenças devem-se ao sítio onde estamos. Nós somos vizinhos da Rússia. Quando se começou a falar deste assunto, havia uma série de países da UE que eram totalmente dependentes do gás russo, outros com diferentes graus de dependência e outros que não dependiam nada. Isto é já uma grande diversidade de posições dentro da UE. Nos EUA têm de perceber que há países com posições mais delicadas em relação à Rússia do que outros.
Há esperança numa solução? Numa Crimeia ucraniana?
Uma coisa é certa: nunca aceitaremos a anexação da Crimeia como um facto consumado. E apoiaremos sempre a recuperação económica da Ucrânia. Essas duas posições são inalteráveis. Temos de ajudar a Ucrânia a ajudar-se a si própria e temos de a ajudar directamente. Mas é evidente também que apoiar a Ucrânia não significa hostilizar a Rússia. Nós pensamos que a Rússia tem todo o interesse em ter uma Ucrânia estabilizada, segura e próspera.
Face à fragilidade do cessar-fogo, debate-se uma solução militar?
Nós apoiamos os acordos de Minsk. A posição é fazer o necessário para que os acordos sejam respeitados, tanto pelo exército ucraniano como pelos grupos separatistas pró-russos e pela Rússia. A determinação mantém-se.
Acredita que a UE terá o apoio dos EUA para uma missão na Líbia?
Temos o apoio político dos EUA, temos o apoio do secretário-geral da ONU em relação à necessidade de fazer algo para evitar as consequências humanas mas também tratar das questões de segurança. Vamos ver qual será a fórmula final, é um problema muito complexo, mas há uma grande determinação da UE. Para já estamos a discutir com o Conselho de Segurança da ONU.
David Cameron conseguirá uma renegociação dos tratados europeus?
Os tratados são sempre passíveis de alterações. Antes de mais temos que saber o que os britânicos querem, porque isso ainda não foi claramente expresso. Há um empenhamento claro dos líderes europeus e das instituições europeias para discutir abertamente com o Governo britânico no sentido de encontrar soluções que permitam a manutenção do Reino Unido na UE.