Esse exercício, de usar a música como terapia, começou há já dez anos, quando escreveu o primeiro disco, Anticorpos. Paulo Zé Pimenta tinha acabado de regressar de Boston (cidade para onde foi estudar Media Arts) quando se deparou com uma depressão, motivada pela desorientação típica de um recém-licenciado que não sabe como transformar o canudo em profissão. Em vez de o pressionar a arranjar emprego, os pais aconselharam-no a fazer o que quisesse e Paulo Zé começou a criar as suas músicas no sampler e na mesa de mistura que tinha desde a adolescência. Ao fim de vários dias trancado no quarto, de pijama, a compor, “a música começou mesmo a funcionar como anticorpo da depressão”.
As circunstâncias acabaram por determinar o “tom dramático e introspectivo” do registo, mas o rumo profissional estava encontrado. Ao lado do irmão mais velho, Zé Nando Pimenta – também músico, produtor e responsável pela editora Meifumado –, começou a dedicar-se à criação de vários projectos e foi assim que nasceram o colectivo Zany Dislexic Band, os Paco Hunter (com o irmão) e, igualmente a solo, Pplectro. Estas experiências dotaram-no do treino necessário para tornar vivências pessoais em letras, com o desapego necessário para eliminar agora o lado biográfico, bastante presente no primeiro registo de 2005.
Rude Sofisticado, o segundo disco que assinou como PZ, surgiu em 2012 e já ensaiava o lado irónico e humorístico que hoje lhe é reconhecido. “Nessa altura, já estava noutra posição para olhar o mundo”, concorda o músico, que só a partir de 2014 resolveu promover-se como PZ ao agendar concertos e dar entrevistas. Andou nesta vida durante dois anos, até que no início de 2014 nada fazia prever o que aconteceu: o single, e respectivo videoclip, ‘Cara de Chewbacca’ tornou-se um fenómeno viral, transformando PZ numa estrela pop mediática, sobretudo entre a ‘geração internet’.
A canção surgiu em parceira com o produtor dB e, a par da letra nonsense e satírica – onde se ouve, com sotaque do Porto, ‘não mente, é inteligente e diferente, mas tem cara de Chewbacca’ ou ‘tu és tudo o que eu quero ter, do pescoço para baixo’–, é a filosofia ‘do it yourself’ do teledisco que cativa os seguidores. Apesar do grande potencial humorístico, PZ percebeu que o single ia ter aceitação quando o mostrou à mãe. “Ela partiu-se a rir e aí vi que podia pegar”, conta, explicando que a ironia que apresenta nas canções é uma herança de família.
Mensagens da Nave-Mãe – que será apresentado amanhã, às 15h, no Serralves em Festa, no Porto, e à meia-noite, no Musicbox, em Lisboa – mantém o espírito mordaz de ‘Cara de Chewbacca’. “Divirto-me a escrever e as coisas que me fazem rir por dentro mantenho sempre nas letras. Depois é uma questão de ritmo. Gosto de cantar como se estivesse a falar e, por isso, uso muito ritmos mais lentos, do hip hop”, diz PZ, sublinhado porém que não é um rapper. O que é então? “Estou a descobrir, a tentar fazer um estilo próprio. Sei que os géneros não me interessam. Quero ter a liberdade de fazer as coisas à minha maneira, de forma caseira, sem pressões”. Deixemos então este ‘sonâmbulo’ no seu pijama (a sua farda ao vivo) sonhar para depois nos fazer rir às gargalhadas.