Estados de Alma

1. Desigualdades. Caíram o Carmo e a Trindade quando Maria Luís Albuquerque admitiu que a sustentabilidade da segurança poderia (note-se o condicional!) obrigar a ajustamentos nas pensões pagas aos actuais pensionistas. Protestou com estrondo a oposição de esquerda e, na área do Governo, mostraram incómodo os tacticistas costumeiros, para quem a política é um mero…

Em Portugal existe um discurso público que cultiva a igualdade. Veja-se, por exemplo, a (justa, aliás) indignação com os recentes indicadores da OCDE que nos mostravam como um dos membros mais desiguais.  Mas esta é apenas uma dimensão da desigualdade: a desigualdade na distribuição de rendimentos. Mas existem outras dimensões, associadas àquilo que em inglês se chamam outsiders (os que estão 'fora', os intrusos) e insiders (os que estão 'por dentro',  os iniciados).

Casos prementes são as desigualdades entre os que, protegidos por uma legislação trabalhista muito proteccionista, conseguiram emprego para a vida e aqueles que lutam por encontrar emprego e contra a precariedade. Ou, ainda, a desigualdade entre os que tiveram a sorte de nascer há mais de 65 anos e que têm as suas pensões de reforma garantidas e aqueles que, começando agora a sua carreira contributiva, não têm qualquer segurança sobre a suas reformas. Foi por estes que Maria Luís falou. Fez bem.

2. O governador. O Governo reconduziu o Dr. Carlos Costa como governador do Banco de Portugal. Fez bem. O Dr. Carlos Costa teve um dos mandatos mais difíceis que há memória. Retrospectivamente é fácil dizer poderia ter feito melhor aqui ou acolá. Mas, contas feitas, preveniu o colapso do sistema financeiro (por duas vezes) e reforçou o prestígio do Banco de Portugal. Parece-me um bom trabalho.