2. António Capucho é um fundador do PSD – militante histórico, que teve um papel fundamental na implementação e no fortalecimento das bases do partido, no seu crescimento e em vários dos seus sucessos eleitorais. Viria a exercer funções governativas com mérito, competência e capacidade de trabalho – e o seu último cargo político foi o de Presidente da Câmara Municipal de Cascais. E foi um excelente Presidente da edilidade de Cascais: converteu o município de Cascais num dos mais atractivos da área da Grande Lisboa, dando-lhe dinamismo, beleza e infra-estruturas essenciais para o equilíbrio do município. Sempre com uma grande ligação aos moradores e aos visitantes de Cascais.
3. Ao mesmo tempo que exercia funções em Cascais, António Capucho nunca se distraiu da política nacional – especialmente das aventuras e desventuras do seu partido do coração, o PPD/PSD. Assim, foi pontualmente muito crítico para com Luís Marques Mendes, embora o tenha apoiado até ao último minuto; esteve depois na oposição a Luís Filipe Menezes, acabando por apoiar incondicionalmente Manuela Ferreira Leite. Mas mesmo este apoio incondicional a Ferreira Leite comportou excepções – António Capucho, por vários momentos, não se conteve em criticar a então líder do partido pela sua inabilidade na gestão política e até por declarações programático-ideológicas, como aconteceu nas críticas que endereçou a Ferreira Leite por dizer que a democracia deveria ser suspensa por seis meses ou que o casamento visava apenas a procriação.
4. Ou seja: António Capucho é um homem inteligente, politicamente competente e será certamente uma excelente companhia para um café ou um aperitivo – mas depois tem características pessoais que acabam por explicar o seu comportamento político. António Capucho é um pouco (para ser simpático!) egocêntrico, vaidoso, com uma auto-estima elevadíssima e à prova de bala – e acha que é superior a todos. E que todos estão errados e muito distantes de atingir o seu brilhantismo crónico.
5. Para António Capucho, ele próprio deveria ser o substituto de Barack Obama na Presidência dos Estados Unidos da América – e mesmo assim, este cargo não é suficientemente poderoso e grandioso para o seu estatuto. Para a sua inteligência e para o seu brilhantismo! Recorde-se a este propósito que Capucho saiu por sua vontade da Câmara de Cascais, cedendo o lugar a Carlos Carreiras para que este ganhasse experiência e notoriedade. Tudo para evitar que o PSD perdesse Cascais, após a saída de António Capucho, nem que fosse devido ao impedimento legal de recandidatura. No dia seguinte, António Capucho torna-se o principal adversário de Carlos Carreiras, o substituto escolhido (também) pelo próprio Capucho! António Capucho é uma pessoa muito singular, portanto.
6. E agora, descobriu a forma de se manter à tona da política portuguesa: ir para o PS. O PS tornou-se o partido dos apátridas ou exilados políticos: Diogo Freitas do Amaral e Basílio Horta descobriram o filão – para voltar a aparecer e ter protagonismo político em Portugal, basta abandonar o partido de origem e ir a correr para o PS – e outros começaram a seguir os passos. António Capucho quer ser o Diogo Freitas do Amaral do PSD – mas convenhamos que Capucho não tem a dimensão histórica de Diogo Freitas do Amaral.
7. Dir-se-á que António Capucho vai ingressar no PS por pura convicção ideológica ou opção política consciente. Não, pedimos desculpa nosso caríssimo leitor, mas tal não é verdade. Se António Capucho fosse para o PS de forma desinteressada e apenas por convicção, hoje não daria uma entrevista ao jornal “i” em que declara que está disponível para alto voos no PS. Basta António Costa lhe pedir! A sério? Por amor de Deus!
8. Ou seja: no fundo, António Capucho diz “oh António Costa, não te esqueças que estou aqui para me pedires altos voos! Só estou à espera que me peças, camarada Costa!”. Tudo isto é demasiado triste. E nós ficamos desolados: nós gostamos de António Capucho e gostaríamos de o ver no PSD qualquer dia. Ao lado de Pedro Passos Coelho a fazerem as pazes. Mas António Capucho já só pensa em altos voos…
9. Face ao que dissemos, podemos concluir que Capucho, seu percurso e seu feito, é muito parecido com o de José Pacheco Pereira. O fenómeno é o mesmo: militantes do PSD que passaram a vida a disparar contra líderes do PSD, contra políticas do PSD… e a elogiar o PS. Até José Sócrates já elogiam (ao que chegámos!).
10. Só que há uma diferença fundamental entre Capucho e Pacheco Pereira: é que Pacheco Pereira jamais cometerá o erro de sair do PSD – e ingressar no PS. Porquê? Por amor incondicional ao PSD? Não. Por uma razão simples: é que a força de José Pacheco Pereira vem precisamente do facto de ser militante do PSD. Se não fosse militante do PSD, José Pacheco Pereira seria apenas mais um Vera Jardim, mais um Ferro Rodrigues ou mais um Ascenso Simões.
11. José Pacheco Pereira só gera interesse mediático porque é um militante do PSD que diz mal do… PSD. Com argumentos e ideias frequentemente… próximos dos defendidos pelos comunistas! Pacheco Pereira acaba por ser ternurento: é um PSDista com coração e cabeça de comunista! É uma ternura….
12. Concluindo: António Capucho e Pacheco Pereira são muitíssimo parecidos – todavia, o segundo é mais esperto que o primeiro. Daí que nunca vá ser estrela de uma Convenção do PS – e até acabe, qualquer dia, por elogiar Pedro Passos Coelho. Note-se que nas suas últimas intervenções, José Pacheco Pereira critica ferozmente o PS… e já só toca levemente no PSD. Sinal que prenuncia a vitória do PSD (ou da coligação Portugal à Frente) nas próximas legislativas de Outubro? Se até o Pacheco Pereira já votará em Passos Coelho…
13. Caro leitor, deixo-lhe com uma reflexão final: se o grande destaque da Convenção nacional do PS foi a intervenção (banal) de António Capucho, então imagine a pobreza franciscana que aquilo foi…
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