Ser guloso é horrendo. Faz mal comer carne, peixe, marisco, doces, salgados, caracóis, glúten, lactose, amendoim, bananas, tudo. Criamos complexos de saúde ou aspecto. Ficamos magros anorécticos ou com carências nutricionais. Acaba por nos matar tão cedo quanto o excesso.
A preguiça é inimiga mortal. O “não fazer nada” é absurdo. Então, trabalhamos quase dia e noite. Não podemos parar um minuto. Tornamo-nos “workaholics” e não damos conta o quanto nos consome o trabalho e a falta de vida social. A exaustão acaba por vencer.
Inveja é coisa feia. Mas preocupamo-nos tanto com isso que acabamos a confundir inveja com ambição. Deixamos de expressar admiração por alguém bem-sucedido para não passarmos por invejosos. Deixamos de querer ser como ele, ou ainda melhores, e arrastamo-nos pela mediocridade. E não ficamos irritados com isso, não deixamos que a ira nos possua. Não pode ser. Também é pecado. Aquela revolta que nos sai das entranhas e que nos faz querer virar o mundo do avesso é exagerada. Não pode ser. Então tratamos de a atenuar. Mas fazemo-lo ao ponto de chegar à apatia. E aí deixamos que tudo se passe à nossa volta sem que nos insurjamos contra injustiças ou malfeitorias.
E o sexo? É mau, obsceno, perverso. Não se pode ter sexo quando, como e com quem quiser. A luxúria é castrada e subjugada a uma castidade moral auto-imposta que nos estrangula os desejos mais íntimos e acaba por destruir as mais belas fantasias.
Entretanto, vamo-nos apercebendo que a vaidade não faz sentido. Não temos orgulho naquilo que fazemos bem, seja trabalho ou hobby, deixamos de o fazer com brio. Temos pudor em querer estar bem por fora porque só o interior conta, mesmo que este se vá deteriorando também. E fazemo-lo ao ponto do desleixo, que por sua vez nos leva à desgraça quando percebemos que o que aparentamos, fazemos e dizemos é miserável. Mais auto-destruição.
Por fim, a avareza. Aquela sofreguidão de querer tudo só para si. Dinheiro, bens materiais, pessoas. Não podemos ser assim. Mas acabamos por não o ser ao ponto de nos desprendermos de tudo, de não nos apegarmos a nada. Afastamo-nos da avareza até nos tornarmos ermitas urbanos.
Passamos do 80 ao 8 sem conseguir ficar a meio caminho onde não sei bem se estará lá a virtude, mas é capaz de estar.
É irónico que fujamos da mortalidade pecaminosa à procura de uma imortalidade utópica, acabando por chegar a um outro extremo igualmente mortal. Vejam lá isso melhor e não sejam paranóicos para nenhum dos lados.
P.S: E agora que já falámos disto num tom mais sério, precisamos de desanuviar. Desafio-vos a irem ao espectáculo de stand-up comedy “7 Pecados”, esta quarta-feira às 21:30. 7 Comediantes a falar sobre cada pecado, sendo que eu serei a Luxúria. Não sejam preguiçosos nem avarentos e apareçam.
(bilhetes no local e na ticketline).