Herman José: ‘Só tenho boas recordações do Nuno’

O filme é de terror e recupera uma tentativa anterior de fazer a adaptação do conto homónimo de Branquinho da Fonseca, com um barão malvado que valeu a Nuno Melo, o actor que lhe deu vida, um Globo de Ouro e um prémio da SPA em 2012. “Fiz muitos filmes com o Nuno, mas aquele…

Nuno Melo morreu hoje, aos 55 anos, vítima de um cancro no fígado, depois de muitos anos a lutar contra uma Hepatite C. “Ainda há três dias teve alta e veio jantar aqui a casa. Até aproveitámos para filmar umas cenas do meu próximo filme, o Espectador Espantado. Ele tinha muita força e também há pouco tempo lhe tinha pedido o CV para outro projecto. Tínhamos de manter o ânimo apesar da doença.”

Edgar Pêra, que fala também de Nuno Melo como um grande amigo, lamenta o tempo de espera que o actor teve de suportar pela medicação adequada para a sua doença. Tem ainda por estrear um filme que fizeram juntos, Adeus Carlos, que será uma oportunidade para que todos possam ver o actor que Nuno Melo foi: “Basta verem os filmes com ele para que se perceba – é um daqueles actores maiores, com uma centelha interior que nasce com eles, uma centelha que lhe saía pelos olhos e que chegava a todo o lado.”

Foi também num filme de Edgar Pêra, Homem Teatro, que o actor David Almeida passou mais tempo com Nuno Melo, de quem se tornou amigo. Nesse projecto partilharam uma casa durante dois meses na Ribeira do Porto, e é também por isso que, no momento da despedida, é o amigo que prefere recordar. “Odeio a morte, sou contra. Cruzei-me com ele muitas vezes em trabalho, mas quando se está entre amigos não se trabalha, vive-se intensa e graciosamente. Dava-me bem com ele, falávamos muito sobre futebol e no trabalho riamo-nos imenso porque estávamos sempre achar que um era melhor do que o outro. Até sempre, Nuno”, disse ao SOL.

Actor versátil, também se dedicou algumas vezes à comédia, e integrou a “família” de Herman José no programa Casino Royal e também no Crime na Pensão Estrelinha. “Só tenho boas recordação do Nuno. Era muito profissional, muito bem-disposto e integrou-se muito bem na equipa. Ainda hoje, quando vejo esses episódios antigos, acho que foi uma das personagens mais divertidas do elenco”, conta o humorista. O último filme de Nuno Melo que esteve nos cinemas, em 2014, foi aliás uma comédia – Virados do Avesso.

Apesar de se ter tornado mais conhecido no grande e no pequeno ecrã, foi no teatro, em 1981, que Nuno Melo deu os primeiros passos como actor, no Teatro de Animação de Setúbal. E foi ao teatro que voltou algumas vezes ao longo da sua carreira, como recorda Jorge Silva Melo, da companhia Artistas Unidos: “O primeiro trabalho que fez connosco foi admirável, o Há Tanto Tempo, de Harold Pinter, que estreámos no CCB em 2002. O Nuno era admirável naquele homem incerto entre duas mulheres com a memória vacilante. Esteve connosco durante dois ou três anos e fez uns cinco ou seis espectáculos. Conseguia misturar uma grande violência com uma grande fragilidade, um atento realismo com um exibicionismo extrovertido, um amor pelo cabotinismo misturado com um respeito pela delicadeza da representação. Era um caso bastante raro de rudeza e delicadeza e eu dei-me bem com ele.”

Foi com a novela Chuva na Areia, da RTP, e o mítico papel de Caniço, ao qual sempre ficou associado, que se tornou conhecido do grande público em 1984. Ao longo da sua carreira trabalhou com realizadores como João César Monteiro, Manoel de Oliveira e Edgar Pêra, e no pequeno ecrã tanto fez séries, como Camilo e Filho, como entrou em várias telenovelas, tendo chegado até a tornar-se famoso no Brasil quando fez de motorista em Senhora do Destino, da Globo. A última novela em que participou foi O Beijo do Escorpião, da TVI, e apesar de nos últimos tempos de vida ter trabalhado também como agente