A polémica estalou no final da semana passada, quando os loiros e brancos pais de Rachel deram uma entrevista a desmascarar a filha. Ruthanne e Lawrence disseram a uma televisão local que Rachel não tem origens afro-americanas – a sua ascendência é germânica e checa, com alguns traços índios – e que está a enganar meio mundo há vários anos. O vídeo da entrevista tornou-se viral na sexta-feira e Dolezal insistiu nesse mesmo dia que se considerava negra e que não se importava com as declarações dos pais.
Esta segunda-feira, em comunicado no Facebook, a activista acabou por demitir-se do cargo de presidente do ramo de Spokane, estado de Washington, da National Association for the Advancement of Colored People (Associação Nacional para o Progresso das Pessoas de Cor), posição que ocupava há menos de seis meses. No entanto, Rachel nunca assumiu a sua verdadeira identidade na longa mensagem, optando por destacar os seus feitos e passar o testemunho, dizendo que vai continuar a lutar pelos direitos sociais.
Nascida no Montana, Dolezal começou a identificar-se com a ‘africanidade’ cedo e até conseguiu uma bolsa integral para a Universidade de Howard, muito conotada com os afro-americanos, o que terá surpreendido muitos professores e colegas quando a viram nas aulas. Curiosamente, os seus pais adoptaram quatro crianças negras durante a juventude de Rachel – três americanos e um haitiano –, o que pode ajudar a explicar a sua ‘mudança de cor’. Pelo menos um dos seus irmãos adoptivos, Ezra, veio já a público também criticar Rachel por colocar maquilhagem para escurecer a pele.
Há cerca de dez anos Rachel começou um longo percurso em torno dos direitos civis e sociais, principalmente afro-americanos. No entanto, muitas das histórias que contou ao longo dos anos foram negadas pelos pais, como o facto de ter nascido e vivido um teepee (tenda índia), de ter vivido na África do Sul durante vários anos, ou de ter sido vítima de pelo menos nove crimes de ódio racial, como nós de enforcar colocados na sua porta e cartas com ameaças racistas.
Agora afastada da NAACP, associação criada em 1909 para defender dos direitos do afro-americanos, Rachel Dolezal acabou por ver surgir quase tantos apoiantes como críticos nos últimos dias. Se uns a acusam de tentar aproveitar-se martirizar-se e aproveitar-se da cor da pele que na verdade não tem para fazer carreira, outros defendem o seu trabalho na associação e noutros organismos e trabalhos que já desempenhou em prol da causa.