Na apresentação da sua carta de princípios, no Porto, Nóvoa demonizou as “políticas de austeridade que conduzem a um desastre económico e social na UE”, colocou no pelourinho dos não pagamentos “uma dívida que sufoca os Estados” e defendeu um “novo patriotismo”, com laivos nacionalistas e anti-europeístas, rejeitando novos compromissos comunitários que “reduzam os poderes soberanos do nosso país”. Convenhamos que é uma cartilha que tem mais afinidades com as retóricas do Syriza ou do Podemos do que com o programa eleitoral do PS.
No PS, só se aproxima destas teses radicais a franja de históricos nostálgicos do frentismo de esquerda, encabeçada por Mário Soares e Manuel Alegre (uma espécie de divertidos velhos dos Marretas, inconvenientes nas suas tiradas arrasadoras e que se estão nas tintas para as consequências do que dizem). Alegre, aliás, depois de já ter subalternizado o PSOE ao Podemos, dizendo que Pablo Iglesias lhe faz “lembrar o Felipe González da juventude”, veio agora descartar os socialistas gregos na Convenção do PS: “Não somos Syriza, mas também não somos Pasok”. Nóvoa não diria melhor.
O economista Daniel Bessa, um socialista moderado e respeitado, confessava há dias: “Percebo o apoio de Mário Soares a Sampaio da Nóvoa, já me é mais difícil entender o apoio de Jorge Sampaio e parece-me totalmente incompreensível o apoio do general Eanes”. Quer isto dizer que Nóvoa desequilibra excessivamente à esquerda o posicionamento central do PS.
Nas legislativas de Outubro, por cada 5 eleitores que Nóvoa atraia à esquerda para o PS, com o seu discurso radical, tenderá a afastar outros 50 entre o decisivo eleitorado do centro. E é aqui que sempre se ganham as eleições. E se perdem, claro.