60 milhões de pessoas fugiram da ‘violência fora de controlo’ em 2014

Os conflitos e a violência fizeram com que o número de pessoas forçadas a fugir das suas casas subisse para um recorde de 60 milhões no ano passado, avançou hoje a Agência da ONU para os Refugiados (ACNUR).

Este total representa um aumento de 8,3 milhões de refugiados e pessoas deslocadas internamente em relação a 2013, o maior aumento de sempre num só ano, indica a ACNUR, no relatório de Tendências Globais intitulado "Mundo em Guerra".

"Estamos a observar uma mudança de paradigma, um resvalo para uma era em que a escala de deslocamentos forçados, bem como as respostas necessárias, está claramente a superar tudo o que vimos antes", disse António Guterres, Alto-comissário para os Refugiados da ONU, antes do lançamento do relatório anual.

O número de pessoas que tiveram de sair das suas casas atingiu os 59,5 milhões no final de 2014, "como consequência de perseguição, conflito, violência generalizada, ou violações de direitos humanos", indica o relatório.

Este valor é mais elevado do que os 51,2 milhões de 2013 e do que os 37,5 milhões de há uma década.

Deste total, 19,5 milhões eram refugiados, 1,8 buscavam asilo e 38,2 milhões fugiram das suas casas mas ficaram no seu país.

Mais de metade dos refugiados do mundo são crianças, acima dos 41% registados em 2009.

"As coisas estão fora de controlo simplesmente porque o mundo parece estar em guerra", disse Guterres, salientando que só os conflitos na Síria e no Iraque forçaram 15 milhões de pessoas a fugir.

Nos últimos cinco anos, pelo menos 14 conflitos eclodiram ou recomeçaram pelo mundo — mais de metade em África.

"Não temos capacidade nem recursos para [assistir] todas as vítimas do conflito. Já não somos capazes de dar conta do recado", afirmou Guterres, apelando a que os países europeus "mantenham as fronteiras abertas".

"Na Europa, mais de 219.000 refugiados e migrantes atravessaram o Mar Mediterrâneo durante 2014. Isso é quase três vezes mais que o pico anterior, de 70.000, que se verificou em 2011", diz o relatório.

Apesar dos receios manifestados pelos países europeus e outras nações desenvolvidas em relação ao crescimento de refugiados, o relatório revela que são as nações em desenvolvimento que acolhem 86% dos que fogem da guerra ou perseguição nos seus países.

No final do ano passado, Portugal acolhia 699 refugiados ou pessoas em situação semelhante, um número reduzido quando comparado com outras nações de língua portuguesa, como Angola (15.474), Guiné-Bissau (8.684), Brasil (7.490) e Moçambique (4.536).

Angola, Guiné-Bissau e Brasil lideram também a lista de países de língua portuguesa com cidadãos em situação de refugiados, 9.507, 1.307 e 977, respetivamente.

Apesar desta tendência de aumento, o relatório da ONU indica que 37 países registaram o regresso de refugiados em 2014, entre eles Angola, para onde voltaram 14.300 pessoas.

No final de 2014, os países que mais acolhiam refugiados eram a Turquia (1,59 milhões), seguida do Paquistão (1,51 milhões) e Líbano (1,15 milhões).

Lusa/SOL