A votação ocorreu no segundo dia de debate da proposta de lei, após dez horas de discussão no Conselho Legislativo (LegCo).
Num gesto de surpresa, cerca de 30 deputados pró-governo abandonaram o LegCo (parlamento) menos de um minuto antes da votação, noticia o South China Morning Post, na sua edição 'online'.
Entre esses deputados estavam apoiantes da Democratic Alliance for the Betterment and Progress of Hong Kong, da Federation of Trade Unions e da Business and Professionals Alliance.
O presidente do LegCo, Jasper Tsang, também não votou.
Sem o apoio da ala democrata, a rejeição do plano de reforma era esperada, uma vez que inviabilizava a necessária maioria de dois terços entre os 70 membros do Conselho Legislativo.
"Este documento não obteve uma maioria de dois terços dos votos", disse Jasper Tsang.
"Eu anuncio que o texto foi vetado", resumiu o presidente do LegCo.
A votação foi acompanhada em direto por imagens de televisão, num ecrã gigante instalado no exterior do LegCo, e o resultado recebido com aplausos e vaias pelas centenas de manifestantes de grupos rivais, separados por barreiras de metal e sob alto dispositivo de segurança.
A proposta de lei previa a introdução do sufrágio universal nas eleições para o chefe do Executivo em 2017, mas só depois de uma pré-seleção de dois a três candidatos, que ficará a cabo de um comité composto por 1.200 membros, num processo descrito pela ala democrata como uma "triagem".
O texto surgiu após a decisão, no final de agosto de 2014, do Comité Permanente da Assembleia Nacional Popular sobre a reforma política, e esteve na origem de um forte movimento de contestação, que levou à ocupação de ruas em Hong Kong durante 79 dias.
Os protestos tiveram o seu epicentro exatamente no complexo de Tamar, que alberga o gabinete do chefe do Executivo, o Conselho Legislativo e as principais secretarias do governo de Hong Kong.
O plano de reforma política proposto foi apelidado de "falsa democracia" por deputados da oposição e ativistas.
Durante o debate no LegCo, os pró-democratas argumentaram contra o plano eleitoral do governo, que segundo eles, nega às pessoas de Hong Kong uma "verdadeira escolha", apesar de, com base nas regras propostas, ser dada à população a possibilidade de eleição do chefe do Executivo sob o princípio de "uma pessoa, um voto".
Já os adversários pró-Pequim argumentaram que o plano de reforma constitui um grande passo em direção à democracia.
"Nós não fazemos ideia sobre o que aconteceu com o resto do grupo, que de repente tomou a decisão de abandonar a câmara", disse James Tien, do pró-governo Partido Liberal, citado pela agência AFP.
"Decidimos ficar e votar a favor da proposta de lei", acrescentou.
Os cerca de 30 deputados que não votaram abandonaram o LegCo depois de verem rejeitado um pedido de 15 minutos de suspensão.
O deputado pró-governo Jeffrey Lam disse que tinham feito o pedido para que outro deputado, que estava doente e ia chegar atrasado, pudesse juntar-se à votação.
Já a deputada do Partido Democrático, Emily Lau, descreveu a saída do parlamento como uma "farsa".
"Aquelas pessoas que não estavam presentes na câmara parlamentar deveriam estar a apoiar a governação de Hong Kong, mas ao vermos o seu comportamento ridículo, não podemos deixar de sentir pena de Hong Kong", disse Emily Lau visivelmente irritada.
Por sua vez, o líder do Partido Cívico, Alan Leong, afirmou que a votação da proposta de reforma política iria ficar para a história pelo facto de apenas oito pessoas terem votado a favor.
"A mensagem que estamos a enviar para o governo central e para o governo de Hong Kong é a de que a população de Hong Kong não quer este pacote de falsa democracia", afirmou.
"Não queremos que os nossos votos sejam usados para legitimar a designação de um chefe do Executivo apoiado por interesses velados", salientou.
Ouvido pelo South China Mporning Post, o professor de ciência política da City University Cheung Chor-yung considerou que o "o chumbo da reforma talvez possa fazer os pró-democratas sentirem-se bem, mas isso não aproxima Hong Kong da democracia". "Pequim dificilmente vai suavizar a sua posição", afirmou.
O professor e diretor do Departamento de Ciências Sociais do Instituto de Educação de Hong Kong, Sonny Lo, também manifestou uma opinião similar: "Pequim encara a aprovação do plano de reforma como a pedra de toque do grau de lealdade política da população de Hong Kong", afirmou.
Lusa/SOL