Aliás, se o pessoal do Metro fosse uma mulher, as greves eram a menstruação. Todos os meses, lá tinham uns dias mais irritadiços, berravam um bocadinho, estavam mais carentes e depois passava. O marido, o Governo, esperava pacientemente que passasse. Dava um pouco mais de atenção, dizia “sim, amor, a culpa de teres deixado cair o tacho na cabeça do nosso filho foi minha” ou “sim, sim, vamos ‘meeeesmo’ repensar na questão da concessão do Metro”, dava mais um mimo ou outro e depois voltava tudo ao normal. Ter o período é uma rotina. Se é rotina, é banal. Se é banal, não se dá muita importância. Logo, não tem o efeito suposto.
Chato, chato é para quem realmente precisa de trabalhar e não está constantemente a fazer greves. Para quem tem reuniões de manhã cedo, apresentações ou aulas na escola e faculdade, para quem quer ir visitar alguém querido ao hospital, para quem mora longe do trabalho onde recebe miseravelmente e onde chegar atrasado ou faltar pode querer dizer menos um jantar decente que consegue proporcionar aos filhos. Estas pessoas é que vão ter que acordar ainda mais cedo do que o normal e dar-se por contentes quando conseguirem um autocarro onde vão com a cara enfiada no sovaco de alguém, ou terão de ir de carro e apanhar um trânsito mais doloroso que levar um pontapé nas costas todos os dias ao acordar.
E ainda por cima, não é demais mencionar que também estão a tirar dias de trabalho àquele senhor cego que pede esmola no Metro enquanto faz altos beats a bater na lata e nos postes da carruagem. – Por falar nisso, quando ele passa, dou por mim a abanar a cabeça, a bater o pé e a curtir o som. Isto é falta de respeito ou estou a apoiar a música portuguesa? É uma dúvida que me assalta. – Voltando às greves. O que importa é lutar a todo o custo, sem perceber se realmente é a melhor forma de luta, pelo que achamos justo, não é verdade? É, sim senhor. Então logo agora, que o tempo está delicioso para se estar na praia.
"Entretanto, enquanto o povo espera ansiosamente que cheguem, de uma vez por todas, à menopausa (embora o termo assuste um pouco porque “pausa” faz logo pensar em mais greve), já está marcada outra para a semana. Se um período por mês é mau, dois já roça o Inferno. "