Chegámos à Quinta do Monte Xisto, relativamente perto de Vila Nova de Foz Côa, local ermo que João Nicolau de Almeida escolheu como ideal para a produção de vinho. Um verdadeiro monte de xisto composto por inúmeras parcelas compradas a pastores e agricultores.
Depois de ter saído do jipe, olhei de novo a paisagem e invejei estes produtores pelo cenário que tinham, diariamente, em frente dos seus olhos, e pelo óptimo vinho que o seu trabalho e aquelas uvas nos dão.
Uma dificílima descida encosta abaixo desvendou-nos outra surpresa. Era ali, num 'salão' improvisado e rodeados de xisto, que íamos jantar. Sem luz, num completo silêncio. Amêndoas torradas, azeitonas, figos secos, tudo o que a terra ali dá chegou até nós. Só a carne não era um cabrito serrano, mas ficou prometido.
O vinho, o Quinta do Monte Xisto 2012, vinificado em lagares de granito com pisa a pé, completou com êxito toda aquela moldura. Estrutura elegante e aromas a denunciar a flora da quinta (flor de laranjeira, rosmaninho, zimbro e funcho), evidenciou-se encorpado, com taninos suaves e um longo final de boca que nos faz querer mais e mais.
Com o cair da noite, o céu toldou-se de milhões de estrelas e umas pequenas lanternas garantiram-nos a luz suficiente para a apetecida cavaqueira. A Quinta do Monte Xisto, acreditem, é a maior prova de luta por que uma vinha tem de passar para se entranhar no solo à procura de um fio de água. Mas é precisamente este esforço, esta batalha diária que transmite à uva uma personalidade tão forte e única como a que encontrámos neste vinho. Para beber e jamais esquecer!