“Há umas raposas que não deixavam que lhes víssemos as caras. Mas de há uns 15 anos para cá começaram a aparecer. Pode-se ver por aquilo que aconteceu a uma das mais famosas famílias portuguesas. Esta peça faz-me lembrar isso”, explica João Lourenço, o encenador, que não se importa de dar nomes às coisas – a família a que se refere é a Espírito Santo e, não por acaso, o texto de Lillian Hellman fala de lutas de poder e de dinheiro no seio familiar.
Nesta adaptação, os negócios familiares são em torno da indústria vinícola (no original era algodão) e movimentam três irmãos que têm apenas uma vontade comum – “tirar mais sumo à uva”, como diz o mais velho, interpretado por Virgílio Castelo. E que, golpe contra golpe, vão dando sentido à centralidade cenográfica de umas enormes escadas que representam a vontade infinita de ter sempre mais, mesmo quando já se tem muito.
Há um banqueiro entre eles (João Perry) mas, por estar a morrer, é o único que se distancia do apelo do dinheiro para afirmar que tão culpados são os que fazem como aqueles que ficam a assistir, uma ideia essencial para a encenação de João Lourenço: “É que os espanhóis e os gregos ainda reagem. Os portugueses é que parece que não fazem nada. Estão como nas marchas, nas bancadas a ver passar o desfile”.
No texto da autora americana, que data de 1939, havia também uma importante vertente feminista que levou a que muitas actrizes recusassem à época o papel de Regina, personagem central aqui entregue a Luísa Cruz. “Representava a emancipação da mulher. É uma mulher que pode fazer o mal e que tem nela muito de várias grandes personagens femininas. A diferença é que, hoje em dia, todas as grandes actrizes querem este papel”.