Vincent Bertholet criou a Orchestre Tout Puissant Marcel Duchamp há nove anos porque não queria mais ter de sacrificar as suas ideias em prol da de outros músicos nas bandas em que foi participando. A oportunidade de se lançar numa formação de raiz liderada por si surgiu, então, em 2006, quando a Cave 12, uma sala de Genebra dedicada à música experimental, deu carta-branca ao contrabaixista francês para desenvolver o projecto que quisesse. Bertholet não hesitou: estabeleceu a regra, «nada democrática», de que todas as suas ideias eram executadas e convidou músicos das mais diversas áreas para desenvolver um som experimental e o mais ecléctico possível, que tanto podia oscilar entre o punk, jazz, pop ou world music.
No início, conta, não foi fácil conjugar tantas influências. «Havia muitas contradições. Sabia o que queria, mas tive de aprender como fazer soar bem tantas influências». É por isso que ainda hoje considera o primeiro disco (OTP, 2007) uma espécie de maquete e o segundo (The Thing That Everything Else is About, 2010) depósito de boas canções, mas com uma gravação que não reflecte a energia da banda. «Não somos obrigados a fazer o disco perfeito. Apesar dos defeitos que lhes reconheço, são trabalhos de que me orgulho», diz ao SOLao telefone da Suíça, onde está radicado.
Ainda assim é Rotorotor, disco do ano passado que contou com produção do britânico Jonh Parish, que Bertholet destaca. «É impossível reproduzir a nossa energia ao vivo porque somos, definitivamente, uma live band. Mas Rotorotot contém muita da nossa essência musical». Essa natureza «frenética e abrangente» pode ser testemunhada ao vivo hoje, no Grande Auditório da Culturgest, naquela que será a primeira passagem desta singular big band por Portugal.