Jimmy Dixon só se lembra de ter actuado uma vez em Portugal. Quando lhe garantimos que os Django Django, banda que integra desde a sua formação como baixista, já passaram duas vezes pelo nosso país, o músico britânico fica confuso. Inconvenientes de profissão, conclui pouco depois, quando descobre que a segunda actuação em solo luso foi no festival Nos Alive 2013 às três da manhã: «Está explicado por que não me lembro», brinca, divertido. A verdade é que, durante quase dois anos, os Django Django viveram praticamente ‘na estrada’, saltando entre países à mesma velocidade que um TGV. Por isso, até se desculpa a falta de distinção entre nações na Europa, onde se deslocaram sem apanhar aviões.
Foi o disco homónimo de estreia, lançado em 2012, o responsável pela vida frenética que o quarteto manteve durante tanto tempo. A par da aclamação da crítica, melómanos do mundo inteiro responderam de forma entusiástica ao trabalho, que foi posteriormente nomeado para o Mercury Prize, o mais importante da indústria de música britânica. Não ganharam (o prémio foi para os conterrâneos Alt-J, que no dia 9 de Julho também actuam no Nos Alive), mas ficaram imediatamente carimbados com um selo de qualidade. Razão mais do que suficiente para, tal como acontece com inúmeras bandas aplaudidas logo na estreia, sentirem a pressão do segundo disco.
Jim, como é tratado pelos colegas, garante que só começou a ficar nervoso com a possível reacção dos fãs uma semana antes do lançamento de Born Under Saturn, editado em Maio. Até lá, a preocupação maior, diz ao telefone de Londres, onde vive, foi «fazer canções que acrescentassem algo em relação às do primeiro álbum». «Escrever um disco é um longo processo, passas por muitas fases. Há dias em que adoras o que construíste e, uma semana depois, ouves e aquilo já não faz assim tanto sentido. Por isso não vale a pena desperdiçar energia a tentar imaginar quais são as expectativas das pessoas».
Neste caso a questão é ainda mais evidente, uma vez que o trabalho de composição do novo álbum foi diferente do da estreia. Enquanto Django Django foi escrito quase por inteiro por David Maclean (bateria e produção) e Vincent Neff (voz e guitarra), Born Under Saturn beneficiou da intervenção dos quatros elementos nas canções. Ao ponto de só depois de mais de um mês de trabalho os dois impulsionadores do projecto terem começado a confiar na opinião dos novos contribuintes (além de Jim, Tommy Grace, responsável pelos sintetizadores). «Levamos algum tempo até perceber para onde as canções podiam evoluir. Especialmente porque trazíamos algumas ideias da digressão, mas mal começámos a compor compreendemos que não tinham força e que era preciso começar tudo do zero». Mas este não foi o único percalço.
Depois da consagração, a banda resolveu gravar o segundo registo num estúdio altamente profissional, daqueles pagos com montantes volumosos por apenas uma semana de trabalho, e percebeu que a produção caseira que marcou o arranque da sua carreira é a que mais se adequa à banda. «Pode ser bastante intimidador. Estás num grande estúdio, caríssimo, começas a olhar para as paredes e o que vês são dezenas de discos de ouro, de artistas super famosos. Isso sim é uma grande pressão».
De volta ao estúdio caseiro, sem qualquer tipo de intimidações, os quatro músicos permitiram-se levar o tempo necessário para experimentar o máximo que quisessem, com o objectivo maior de criarem «canções mesmo bem estruturadas». «No primeiro disco, chegávamos a um refrão, parávamos e colocávamos uma percussão ou um ritmo forte. Desta vez estávamos concentrados em criar canções redondas, mas ricas em instrumentação, ritmo e melodia».
Em termos sonoros, o resultado não é assim tão distante do disco de estreia, com a energia distinta da banda a ser, novamente, o ponto alto do registo. Claro que o efeito surpresa já passou, mas Born Under Saturn (que será apresentado no Nos Alive no dia 9 de Julho) tem todos os ingredientes para proporcionar espectáculos igualmente intensos como os outros dois que já deram em Portugal. A que se deve toda essa energia em palco, mesmo quando actuam às três da manhã? «Provavelmente a muito Red Bull [risos]. Sinceramente não sei explicar. Uma vez demos um concerto na Austrália, vindos do Japão, e eu não dormi nada no avião. Como houve atrasos, tivemos de ir, literalmente, do avião para o palco. Estava embriagado de cansado e achei que não ia conseguir actuar, mas assim que subi ao palco senti um pico de adrenalina incrível. E depois, quando vês milhares de pessoas à tua frente a cantar as tuas músicas o incentivo é grande». Esperemos que o estímulo da plateia do Alive seja igualmente motivador para quê, da próxima vez, o músico não se esqueça da passagem pelo Passeio Marítimo de Algés.
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