Acordo UE/Grécia: o dia da derrota histórica da Esquerda!

1. Ao que tudo indica, as negociações para firmar um acordo que agrade aos credores gregos e permita desembolsar a última tranche do empréstimo para que a Grécia cumpra os compromissos vencidos no final do mês corrente estão prestes a terminar –  evitando-se, desta forma, o cenário de ruptura absoluta e o cenário dantesco, porque nunca experimentado,…

2. Por que demorou tanto tempo a chegarmos a um acordo? Por culpa da inflexibilidade, por vezes, irritante de Angela Merkel e do seu Ministro das Finanças? Ou por culpa da irresponsabilidade e infantilidade desse partido pseudo-mirífico, populista e socialista démodé que é o Syriza? A resposta correcta é, na nossa perspectiva, uma conjugação dos dois factores: houve inflexibilidade negocial e a vontade de encostar o Syriza à parede por parte da Senhora Merkel. Contudo, o factor que mais pesou para o estado de pânico na zona euro que vivemos foi, sem dúvidas, a irresponsabilidade e o populismo chocante de Tsipras e Varoufakis. Em condições normais, a opinião pública e a comunicação social teriam crucificado a infantilidade dos camaradas do Syriza. Tivesse sido Passos Coelho a montar o filme que Tsipras montou – e hoje teríamos o Partido Comunista na rua, o PS com proclamações críticas soltadas aos sete ventos, a elite bem pensante a zurzir na ingenuidade e falta de cultura de Passos Coelho, a elite económica e financeira a criticar violentamente a irresponsabilidade negocial do Governo que acabou por afectar a credibilidade de Portugal, destruindo empregos e tornando mais difícil a recuperação económica.

3. Mas não foi assim com Tsipras e o Syriza: é que estes são de extrema-esquerda e já conquistaram o coração dos partidos ditos do socialismo moderado. Logo, a sua irresponsabilidade foi convertida (pela opinião publicada, na arena mediática) em heroísmo e resistência. Lendo os jornais portugueses e os comentadores políticos com maior ressonância mediática que escreveram desde segunda-feira à noite – parece que o Alexis de Tsipras protagonizou o “Dia D” dos tempos modernos. Parece que o único acto de mínima  responsabilidade e compromisso do Governo grego  é um verdadeiro “desembarque da Normandia”: fazer aquilo que o Governo grego – a bem dos gregos e das suas condições de vida! – já deveria ter feito há muito tempo foi convertido em acto de enorme bravura e revelador da excepcionalidade do Syriza! Tristes tempos estes. E, afinal, a única coisa que o Syriza fez foi…começar a negociar seriamente!

4. A razão de ser deste tratamento com laivos de heroísmo à atitude (banal) do Syriza  é muito simples: é uma questão de sobrevivência da esquerda. A esquerda é, neste momento, o principal inimigo de si mesmo: os factos – enfim, a História! – têm revelado o desajustamento programático e os vícios que a esquerda nos tem imposto com prejuízo de todos, sobretudo os mais vulneráveis. Se no curo prazo, algumas das medidas-bandeira da esquerda podem melhorar ligeiramente a vida dos cidadãos mais pobres – a médio e longo prazo, tais medidas revelam-se desastrosas para estes mesmos cidadãos, lançando-os numa espiral de miséria de que não conseguem (porque não lhe foram concedidas condições para o conseguirem) sair. Esta constatação é o destino fatal da história.

5. Naturalmente, face ao acordo conseguido por Tsipras (que impõe medidas como o aumento dos impostos, a alteração da idade da reforma e redução das prestações sociais), a esquerda só podia aplaudir e elogiar à exaustão as infantilidades e irresponsabilidades de Tsipras. É uma questão de sobrevivência política! Se criticassem o Governo grego, a esquerda estaria a assinar a sua declaração de óbito político. A esquerda teria de se assumir, sem rodeios, como uma derrotada histórica – ou melhor, derrotada pela História. Seria o seu fim.

6. Mas foi isso mesmo que aconteceu: ontem, assistimos ao momento da derrota histórica da esquerda. Provou-se que a esquerda é a força política mais conservadora do quadro político europeu: o mundo muda, a esquerda permanece estática. Agarrada a dogmas dos anos 70. Condenando à pobreza e à miséria, Portugal e os portugueses e portuguesas. Condenando à pobreza e à miséria, a Europa, os europeus e as europeias. O que não é novidade: para a esquerda, quanto pior, melhor – a intelectualidade esquerdista julga que por entre ruínas, miséria e o caos, a sua vitória será mais fácil. 

7. Por todas estas razões, vemos que Francisco Louçã – o radical opositor de Passos Coelho e que apelida o Governo português de “terrorista social” – aplaude as medidas propostas por Tsipras. Medidas essas mais duras que as aplicadas pelo Governo de Passos Coelho!

8. Caros leitores, já percebemos o filme: para a esquerda – Louçãs, Costas e outros  – as medidas, por si mesmo, não são boas ou más pelos seus méritos. São boas ou más conforme os políticos que as propõem e aplicam são de esquerda ou não! Já ficámos, no entanto, esclarecidos: a esquerda tomará medidas tão ou mais duras que os governos de Direita. Não cai no erro dos gregos: confiaram no populismo de Tsipras e hoje estão piores. Muito piores. Não confie no nosso Tsipras que dá pelo nome de António Costa.

 

joaolemosesteves@gmail.com