Negócio do ouro disparou com a troika

Portugal exportou 1,8 mil milhões de euros de ouro durante o resgate. Famílias vendiam o ouro que tinham e as empresas faziam a revenda para o exterior. Actividade volta agora ao nível pré-troika.

A presença da troika em Portugal fez disparar as vendas de ouro ao estrangeiro. De 2011 a 2014, as exportações do metal dourado por Portugal superaram 1,8 mil milhões de euros, mostram os dados disponibilizados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) ao SOL.

Em 2014, as vendas travaram a fundo e a Espanha tornou-se o principal destino do metal dourado nacional.

As estatísticas do INE abarcam o ouro em bruto, semimanufacturado ou em pó, excluindo as jóias ou qualquer eventual alteração nas reservas de ouro do Banco de Portugal.

Como Portugal não é um país produtor, o volume recorde de exportações resulta da expansão do negócio de lojas de compra e venda de ouro durante a crise. Os portugueses mais afectados com a austeridade procuram essas lojas para vender jóias ou outras peças e obter liquidez imediata. A maioria do ouro é depois fundido e vendido em bruto no mercado internacional.

Os dados do INE revelam que as exportações superaram os 526 milhões de euros em 2011, mais do dobro do valor registado em 2010. Em 2012, as vendas dispararam para o montante mais elevado de sempre: 723,4 milhões de euros. Nos últimos dois anos a tendência inverteu-se e as exportações recuaram para valores pré-troika.

Em 2014, Portugal vendeu 213,7 milhões de euros, uma diminuição de 45% face a 2013 a que não é alheia a descida da cotação do ouro e o encerramento de centenas de lojas de compra e venda de ouro.

Depois do boom registado em 2012, o negócio das chamadas ‘retalhistas de ourivesaria’ está numa tendência decrescente. Os dados facultados ao SOLpela Imprensa Nacional Casa da Moeda (INCM), entidade responsável pelo licenciamento deste tipo de negócio, indicam que existem actualmente 4.402 lojas, o que compara com 5.582 no fim de 2012. Ou seja, em cerca de dois anos fecharam portas quase 1.200 estabelecimentos. «O período de compra, não tendo terminado, reduziu-se drasticamente», confirma José Carlos Brito. O secretário-geral da Associação da Indústria de Ourivesaria arrisca uma explicação: «De um ponto de vista genérico, após um período de boom que coincidiu com um aumento repentino e muito grande do valor do ouro, seguiu-se uma quebra também brutal a que não deixa de ser alheia a desvalorização que se sentiu no ouro em meados de 2013».

Ouro fica na Península Ibérica

Espanha superou a Bélgica como principal destino das vendas portuguesas em 2014. Cerca de 41% do ouro nacional, correspondente a 88 milhões de euros, foi parar aos cofres dos espanhóis.

No pódio dos países que realizam negócios com Portugal, a Bélgica ocupa o segundo lugar. Comprou 30% do metal precioso português em 2014, seguida de Itália, que adquiriu 25% do ouro exportado. França e Alemanha completam a lista.