O Castelo de Braga

O meu falecido avô paterno era um entusiasta defensor do regime republicano e dos seus valores.

Muitas vezes me contou como, na sua juventude – aquando da Monarquia do Norte –, escapou à retaliação de um grupo de arruaceiros integralistas que andavam à caça de republicanos. Salvou-se graças à bondade do barbeiro onde tinha ido cortar o cabelo, que lhe enfarruscou a cara com espuma de barbear.

Uma coisa que o meu avô não perdoava aos monárquicos, ainda no tempo da Monarquia, era terem demolido o Castelo de Braga em 1905. Embora haja notícias e vestígios da existência de cercas fortificadas na cidade desde o século III, o Castelo demolido em 1905 era o Castelo medieval mandado construir por D. Dinis no século XIII.

Dessa construção restou apenas a Torre de Menagem, de planta quadrada e estilo gótico, com paredes aprumadas de trinta metros de altura a terminarem em parapeito de ameias. E, nos ângulos, há quatro balcões com mata-cães sobre mísulas escalonadas. Esta torre foi classificada Monumento Nacional em 1910.

O acesso faz-se por uma escadaria externa de dois lanços em granito, que contorna duas das fachadas e conduz a uma porta sobreelevada de arco apontado e encimada com as armas de D. Dinis. No interior existem quatro pisos de espaço único, interligados por escadas de madeira, que actualmente funcionam como áreas para exposições temporárias. O segundo e o terceiro pisos possuem apenas seteiras a rasgar uma das paredes, e o último tem janelas em arco em todas as fachadas, algumas geminadas.

Vestígios do Castelo e da muralha encontram-se ainda no interior das casas da Arcada, que originalmente foram construídas a ela encostadas. Tal como restos de uma escada no exterior da torre sineira da Igreja da Lapa, que ficou suspensa no ar com o desaparecimento da muralha de onde partia.

Há quem diga e sustente, nomeadamente em teses de doutoramento, que o casario do quarteirão da Arcada esconde muito mais do que meros troços esparsos da muralha, encontrando-se aí inclusive um torreão e a porta gótica de entrada no Castelo, clamando pela demolição das construções que ocultam esses elementos.

O meu falecido avô certamente se oporia a tal solução. Ele sempre zurziu nessa mania de tudo demolir para fazer de novo (e supostamente melhor), que sempre orientou a mentalidade bracarense e acompanhou a história da sua expansão urbana. E isso deixou a cidade longe da dimensão monumental e física a que os seus mais de dois mil anos de existência a poderiam fazer almejar, mesmo considerando as convulsões bélicas por que passou.

Mas, certamente, seria ele o primeiro a apoiar uma condigna reabilitação do espaço onde o velho Castelo se inseria e uma valorização de toda a envolvente da sobrevivente Torre de Menagem, incluindo do degradado e devoluto edifício dito do Castelo.