Quem conhece a banda – que se estreia em Portugal hoje e amanhã, com concertos, respectivamente, no Teatro Maria Matos, em Lisboa, e no GNRation, em Braga – sabe da sua obsessão por ruídos e no dia da entrevista a excitação nostálgica da visita de uma mascote humana de Heidi à redacção do SOL, para promover o seu regresso à televisão nacional, acabou por passar para o outro lado da linha. “Estamos aqui a falar sobre os nossos sons, mas daí é que estão a chegar os mais invulgares”, comentou Schmidt, incapaz de ignorar as risadas histriónicas que se ouviam do lado de cá. Explicada a emoção que Heidi causa nos adultos portugueses, salientamos que, ainda assim, nada se compara a fazer um disco inteiro com ruídos captados durante operações plásticas, enquanto se aperfeiçoam narizes e se colocam implantes mamários. Ou ainda, frisamos, fazer um álbum (The Marriage of True Minds, 2013) baseado em jogos de telepatia, com uma série de experiências científicas.
Estes métodos conceptuais valeram à dupla de Baltimore serem adjectivados como uma das bandas mais estranhas do mundo. “Isso seria fantástico, mas acho que não é verdade”, solta, entre gargalhadas, Schmidt, acrescentando: “O conceito de estranheza varia tanto mediante o contexto. Fizemos um disco a partir de operações porque o meu pai era cirurgião plástico e cresci a ver implantes de silicone na parte de trás do nosso carro”.
Macacos deficientes
Ainda assim, os músicos divertem-se a constatar as opiniões que os seus discos geram nas pessoas. Para Daniel, uma das críticas mais estranhas que leu sobre a banda foi serem descritos como “dois macacos deficientes a tocarem violinos”. “Adoraria que fosse real. Significaria que tínhamos uma liberdade que ainda desconhecemos”, observa. Já Schmidt recorda o dia em que foi jantar em casa de um amigo e o anfitrião achou por bem colocar um dos seus discos a tocar. “Os convidados passaram a noite a perguntar se o disco estava riscado”.
Evitar a liberdade
Ao contrário do que se poderia pensar, este tipo de comentários são elogios para a dupla, até porque a música “é, de facto, uma arte muito esquisita”. “Gostamos de causar incómodo nos ouvintes. As repetições e loops que se ouvem nas canções servem para proporcionar sentimentos ambíguos nas pessoas”, explica Schmidt, revelando que muitas vezes tenta reproduzir memórias de experiências antigas que teve, nos tempos de faculdade enquanto estudante de Filosofia, com o consumo de LSD.
Fazer música é, então, uma procura constante de liberdade? “Não! É precisamente o contrário. A liberdade é aterradora”, salienta. E Daniel acrescenta: “O que nos motiva é mais a limitação de sabermos que ao fazer música vamos focar-nos num único assunto”.
alexandra.ho@sol.pt