Não discutindo aqui o merecimento objetivo das soluções aprovadas, importa recordar que esta solução antecedeu as eleições legislativas que ocorreram pouco tempo depois, a 27 de setembro de 2009, tendo na altura permitido que o respetivo ministro anunciasse, nomeadamente, que entre 2010 e 2012, sem contar com os aumentos gerais da função pública, haverá um aumento de 10 a 11 por cento para os homens e mulheres que servem nas polícias.
Recorde-se que o ano de 2009 foi também o do aumento de 2,9% da função pública. Como na altura se disse sobre o tema, naquela conjuntura este aumento poderia ser nefasto para a manutenção do emprego, previsão que infelizmente se confirmou e consolidou.
Acontece que depois de entrado em funções o novo Governo Sócrates, e perante os evidentes constrangimentos de ordem financeira existentes, assim como em face, nomeadamente, da descompensação no planeamento das soluções aprovadas, foi o mesmo Governo que logo teve de travar grande parte da concretização das soluções anunciadas.
Um Governo depois obrigado também a apelar ao apoio internacional, uma história que só recentemente acabou e que deixou presente o sabor amargo da humilhante diminuição forçada da soberania nacional.
Acontece também que aquela referida travagem foi concretizada de um modo irresponsável, gerando, no caso das forças de segurança, uma situação de séria instabilidade no seu seio, com todas as projeções que tal implicou para os homens e mulheres que nelas servem, para as instituições em causa e para a segurança em geral.
Foi com a ação do Governo que se encontra em funções que se conseguiu resolver esta situação, que comprometia o respeito pela dignidade e estatuto das forças de segurança e dos seus elementos. Ação essa adotada num quadro que de todos é conhecido, de forte condicionalismo económico-financeiro.
Serve esta pequena-grande e triste história para ilustrar a diferença entre a construção de castelos de cartas e a governação responsável. Entre a gestão do momento e a condução dos destinos de um país. Entre governar por palavras que são levadas pelo vento e o atuar sobre uma realidade que exige cuidado. Entre o vício da servidão e da dependência acrescida face a terceiros ou o oferecer de garantias e segurança para o futuro.
Pode até parecer que não estarei a falar da Grécia. Mas também estou a falar da Grécia. E de António Costa, que, a propósito da vitória do Syriza, anunciava há pouco tempo urbi et orbi que se tratava de um sinal de mudança que dava força para seguir a mesma linha…
E é perante a encruzilhada que temos também nós cidadãos a responsabilidade de optar.