Mata de Albergaria

Quando chega o tempo quente, sabe bem procurar paragens mais aprazíveis para refrescar o corpo e a mente.  A opção mais evidente é a orla atlântica, com a sua aragem marinha, embora a massificação tenha tornado as praias minhotas demasiado frequentadas.   

Há, assim, quem prefira as fluviais, mas também estas tendem a ultrapassar o seu limite de carga, transformando em pesadelo o que se pretenderia bucólica estada. Para além de que, pessoalmente, nunca gostei da sensação dos pés a enterrarem-se no lodo do leito dos rios campestres… 

Outra hipótese é o frescor das serras, onde as sombras dos bosques e os pedregosos ribeiros de montanha são agradáveis lugares para esfriar o excesso de calor. E, apesar de tudo, ainda com algum espaço vital para respirar. 

É esta opção que recolhe a minha preferência. Tanto mais que, a poucos quilómetros de casa, fica o edílico cenário do Parque Nacional da Peneda-Gerês. 

Criado em 1971, foi desde logo autonomizado dos serviços florestais que lhe estiveram na génese. 

De facto, havia que pensar e gerir todo o seu território de uma forma global e única, e não parcelarmente, por perímetros florestais, como tradicionalmente a entidade responsável pela floresta fazia. 

Mas também porque os objectivos de conservação da natureza inerentes a uma área protegida não se compatibilizavam com as políticas de rentabilização económica que presidiam à administração florestal. 

É assim que hoje conseguimos passear pelo Parque Nacional sem a agressão das monoculturas de eucaliptos, que deixam a terra seca e sem qualquer apetência para dela se desfrutar. 

Pelo contrário, são vários os núcleos de vegetação autóctone que nele se desenvolveram, com óbvio destaque para os carvalhais. E um dos mais notáveis bosques de carvalhos galaico-portugeses é a Mata de Palheiros e Albergaria, classificada pelo Conselho da Europa como Reserva Biogenética em 1989. 

É das mais repousantes impressões caminhar por entre aquelas árvores ancestrais, de troncos cobertos de musgo, num arcádio silêncio estival onde parece que a qualquer momento duendes podem ganhar vida num ramo retorcido e apodrecido ou um bicho selvagem pode irromper, distraído, pelo caminho que percorremos. 

Ainda na mata de Albergaria correm as águas cristalinas do Rio Homem, saltando de pedra em pedra e formando piscinas naturais de todos os tamanhos e feitios. 

A mais conhecida, já com alguma frequência de usuários, fica mesmo junto à estrada florestal que atravessa o rio, muito perto da fronteira com Espanha na Portela do Homem. É uma piscina profunda, com falésias laterais, para onde a água se precipita em cascata, e que está quase sempre na sombra, embora as rochas que a ladeiam fiquem expostas ao sol praticamente todo o dia. 

Mas para quem prefere locais mais tranquilos, como eu, basta subir o trilho que ladeia o rio em direção às antigas minas dos Carris para encontrar vários outros tanques a convidar a um mergulho ou mesmo a umas braçadas de natação – e absolutamente sem ninguém. Haverá melhor paraíso?