Liceu Camões sem obras à vista

A escola centenária de Lisboa degrada-se de dia para dia, aumentando os riscos de derrocada. O LNEC diz que as obras são urgentes, mas a Parque Escolar não tem qualquer data prevista para a intervenção.  

O centenário Liceu Camões, em Lisboa, continua sem qualquer previsão para obras de fundo e a forma como as marcas do tempo se fazem notar na fragilidade das estruturas está a preocupar a comunidade escolar. Os telhados e tectos deixam entrar a água da chuva provocando graves infiltrações, e as paredes apresentam profundas fissuras horizontais, uma prova visível de que estão a ceder.

Os problemas já são antigos e a requalificação dos edifícios por parte da Parque Escolar chegaram a ter início marcado para Agosto de 2011. Apesar disso, o liceu ainda integra a lista de escolas da 3.ª fase que deveriam ter sido intervencionadas de 2009 a 2011, mas a entidade pública não dá qualquer tipo de previsão de quando as obras necessárias poderão começar. «Houve um erro de casting. O Camões é, teoricamente, o edifício mais antigo da cidade, e por isso, deveria ter sido incluído na 1.ª fase [escolas intervencionadas de 2007 a 2008], e não na 3.ª», disse ao SOL João Jaime Pires, director do liceu, classificado monumento de interesse público desde 2012.

O estado de degradação reflecte-se ainda no campo de jogos que já foi encerrado pela DREL há 10 anos,  «porque o muro podia desabar a qualquer momento, o que punha em causa a segurança dos alunos». Desde então os estudantes não fazem desporto ao ar livre. O muro ainda não teve qualquer tipo de intervenção e está a comprometer a construção de uma urbanização vizinha. 

Risco de queda em caso de sismo

A fragilidade das paredes tem vindo a agravar-se com a construção do novo edifício-sede da Polícia Judiciária, na rua ao lado da escola, e também do seu heliporto que, apesar de ainda não ter entrado em funcionamento, já representa outra preocupação. «Temos aqui outro risco por queda de aeronaves. E não se percebe a razão desta construção porque, a 300 metros daqui, temos um heliporto que é considerado o melhor da cidade», criticou o director.

Para executar o novo projecto de obras na escola, do arquitecto Falcão de Campos, são precisos 18 milhões de euros – valor que nunca esteve previsto no orçamento da Parque Escolar em 2014.

Os problemas foram já discutidos em audiência na 7.ª Comissão parlamentar, em Julho do ano passado, onde o director da Parque Escolar sugeriu que «poderia dispor de um milhão de euros para pequenas obras, sem no entanto assegurar condições para intervir directamente na estrutura e introduzir reforços anti-sísmicos» – lê-se no relatório a que o SOL teve acesso. O parecer do Laboratório Nacional da Engenharia Civil (LNEC) denuncia a «extrema vulnerabilidade» do ginásio e o «mau estado de conservação» do edifício, que «necessita urgentemente de uma obra de reabilitação global».

Mas as perguntas que têm sido colocadas acerca de possíveis intervenções no campo de jogos e no edifício principal ainda não têm resposta: «Nunca recebemos nenhum técnico da Parque Escolar para vir avaliar as condições. O Ministério da Educação e Ciência (MEC) não tem uma equipa técnica para fazer este tipo de trabalho. Lembro-me que, na altura em que o problema do amianto estava na ordem do dia, recebi uma chamada a pedirem para eu ir ao telhado ver se era composto por esse material», critica João Jaime Pires.

Segundo o director, o novo projecto mantém a arquitectura simétrica original da escola: «No fundo, todo o edifício ficava intacto, mantendo-se o desenho em tridente do bloco principal. A única novidade consiste em dar alguma respiração às caves e criar dois semicírculos».

«Ou seja, o projecto existe. Se a Parque Escolar considera que é muito dispendioso ou megalómano, então que diga qual é o dinheiro que tem disponível para que possamos ter a oportunidade de concretizá-lo» – defendeu, por sua vez, Patrícia Marques, presidente da direcção da Associação de Pais e Encarregados de Educação da Escola Secundária Camões.

Laboratórios sem material

As escolas que ficaram neste limbo acabaram por não receber o equipamento do Plano Tecnológico da Educação. E para tentar colmatar as faltas de materiais, quer nas salas de informática, quer nos laboratórios, a solução tem sido, por vezes, pedir ajuda às próprias empresas: «Os nossos alunos não estão em pé de igualdade com os dos outros liceus e eu acho que isto é uma questão de justiça. A associação de pais só conseguiu o patrocínio de uma empresa fornecedora de equipamentos de laboratórios e do Instituto Superior Técnico que doou alguns computadores, sendo que a maior parte das empresas de informática não está disponível para ajudar», disse ao SOL Patrícia Marques.

Para os pais, o facto de os alunos que estudam à noite, com dificuldades económicas, não terem cantina também tem de mudar e sugerem que tenham acesso a uma refeição subsidiada pelo Estado, como já acontece com os alunos que estudam de dia, inseridos nos escalões A e B (que têm ajudas de custo totais ou parciais, respectivamente). 

simoneta.vicente@sol.pt