Os primeiros jovens europeus

Nunca desistirei da Europa: é aquilo que sou. A ideia de liberdade, foi ela que a inventou. Também foi ela quem mais a maltratou – o inominável horror nazi, a tenebrosa guerra nos Balcãs, só para falar dos torturados e mortos que ainda poderiam ser nossos contemporâneos. Dizem-na velha, anquilosada; é verdade que os seus…

O esplendor da Europa é o de ter conseguido construir um esboço de paraíso sobre todos os destroços: o Estado Social. Os neoliberais que dele beneficiaram e beneficiam decretam-lhe a morte a prazo: dizem que é insustentável num mundo cada vez mais competitivo, e advogam um sistema progressivo de privatização da Saúde e da Educação. 

Enquanto os Estados Unidos da América, criados pela livre iniciativa, concluem que sem um mínimo de Estado Social a violência e a miséria disparam, a Europa parece resignar-se ao modelo que a América já deu como falhado. O dinheiro hipnotiza tanto como a falta dele; a obsessão pela austeridade, nascida da crise de 2008, mata qualquer possibilidade de riqueza. Em vez de combater o sistema de especulação financeira que conduziu à crise e de instituir o primado da economia política sobre a política do capital, a Europa baixou os braços. 

Não conseguiu sequer criar um espírito federador que suplante o individualismo ferrenho de cada Estado – esse é o seu verdadeiro calcanhar de Aquiles. Alguns ‘especialistas’ afirmam que, dentro de 10 anos, a Europa perderá o poder que lhe resta a favor das economias emergentes da China e da Índia. Ora, a China e a Índia não são modelos de vida para ninguém.  

Esquecem que há uma nova geração a caminho: a primeira geração de verdadeiros europeus. Jovens que atravessam a Europa, vivendo, estudando e trabalhando em vários países, e que conseguem sentir isso que une portugueses, franceses, gregos, suecos, ingleses ou alemães: o culto da liberdade, da igualdade de oportunidades e da diversidade que favorecem a criatividade e a paz. 

 

A Europa não pode deixar cair a Grécia nas mãos da Rússia, ou pior; o Governo grego sabe isso e esticou a corda para lá dos limites. Não gosto dos métodos do Governo grego: o recurso ao referendo e a sua formulação foram claramente demagógicos, e a coacção e a chantagem não são armas negociais respeitáveis. Mas esta Europa tem-se dado pouco ao respeito, favorecendo os fortes e humilhando os fracos. A Alemanha tem de ser urgentemente lembrada de que, há 70 anos, lhe foi oferecido um plano de recuperação, em vez de uma humilhação. Perdoámos-lhe o imperdoável, tanto e tão bem, que agora ela engorda à custa da austeridade alheia e da desvalorização do euro que essa austeridade implica. Os números provam-no.  

 

Nos princípios da União Europeia devia constar, antes de mais, a exigência de uma participação mínima de ministros de ambos os sexos nos seus governos; não basta apregoar a beleza da igualdade de género, é preciso praticá-la – e isso não acontece no actual Governo grego. Não, não é um pormenor: felizmente, não estamos na decantada democracia grega do século V a.C., que deixava de fora as mulheres… e os escravos. 

A Europa dos livros, das ideias, da alegria e do bem-estar não morrerá. Os jovens europeus saberão sacudir-lhe o pó, varrer-lhe os trastes e defender-lhe o corpo e a alma. Até porque, ao contrário dos pais, que montaram as suas vidinhas tranquilamente, num tempo de ilusória prosperidade que acataram como eterno, não têm outro remédio.